Title: A Teoria do
1A Teoria do Garden Path
2Antes do modelo TGP
- A Psicolingüística moderna começou como um
empreendimento de cooperação entre linguistas e
psicólogos durante os primeiros anos da década de
cinqüenta. Em seus primórdios, a Psicolingüística
foi influenciada pela tradição do Behaviorismo.
Na década seguinte o modelo Chomskyano foi
dominante nos 70s a Psicolingüística afasta-se
da lingüística e aproxima-se das Ciências
Cognitivas. Nos 80s há uma reaproximação c/a
Lingüística que continuou se estreitando nos
90s e vem florescendo na presente década. - 50 Início dos estudos em Psicolingüística sob a
égide do Behaviorismo. - 60 A Psicolingüística torna-se Chomskyana
- 70 A Psicolingüística é absorvida pela
Psicologia Cognitiva - 80- atual Reaproximação crescente c/ a
Lingüística
3S ?r ?s ?R
- Década de 50 o Behaviorismo
- Nas primeiras décadas do século XX há uma
crescente oposição às concepções mentalistas em
Psicologia e em Lingüística. Em 1920, o
behaviorismo já é o paradigma dominante. Os
behavioristas favoreciam o estudo do
comportamento objetivo, freqüentemente c/ animais
de laboratório, abandonando por completo o estudo
de processos mentais. A ênfase recaía sobre o
papel de contingências ambientais (reforço e
punição) sobre o comportamento. Só por volta de
1950 é que os behavioristas passam a
interessar-se por temas lingüísticos, abandonando
seus ratos de laboratório para tentar estudar o
que chamavam de comportamento verbal. Diversas
pesquisas nesta época fundamentavam as teses de
Verbal Behaviour de Skinner, de que o
comportamento verbal era passível de
condicionamento por reforço - Jack Jill (Bloomfield)
- 1. Verplanck (1955) mmm study
- Afirmações de estudantes universitários
apresentavam índice de qualidade crescente
quando estimuladas por reforçadores verbais como
mmm ou bom - 2. Greenspoon (1955) produção de plural
- Aumentava-se o índice de palavras no plural
quando se dirigia o reforço para este tipo de
palavra. Podia-se influenciar a escolha de
palavras na conversa com reforço gestual (meneio
de cabeça).
4A psicolingüística de base Chomskyana
- Segundo Tannenhaus, há três modos distintos
pelos quais as idéias de Chomsky influenciaram a
Psicolingüística. - 1. Contribuição metodológica afirmando o
inatismo e o fato de que a mente é rica em
estrutura - 2. O problema lógico da aquisição da linguagem
fornece o quadro para a pesquisa em
Psicolingüística desenvolvimental - 3. A teoria lingüística Chomskyana guiou a maior
parte da pesquisa em Psicolingüística
Experimental durante os 60s.
5Estudos psicológicos da gramática
- Desde a década de 50, quando surge a
Psicolingüística, nos EUA, num contexto ainda
behaviorista, mas já decisivamente influenciado
pelo gerativismo e pela Inteligência Artificial,
os primeiros experimentos investigaram o papel da
estrutura na compreensão. Os experimentos de
Miller e seus colegas, por exemplo - 1. Sílabas sem sentido são facilmente
aprendidas em estruturas frasais - Yig wur vum rix hum jig miv
- era mais dificilmente memorizado do que
- The Yir wurs vum rixing hum in jig miv.
- Resultado Epstein (1961) sugeriu que este fato
revela a importância da estrutura frasal nos
processos de armazenagem e recuperação de memória.
62. Retenção de Constituintes Sentenciais na
Memória de Trabalho
- Unless the temperature drops below freezing,
rain will fall - freezing
- Unless the storm moves farther north, freezing
rain will fall - freezing
- Caplan (1972) A informação sentencial é
acumulada na memória de trabalho em conjuntos
correspondentes aos constituintes oracionais
73. Locação de Clicks
- Garrett, Bever Fodor, 1966
-
- That he was happy ? was evident from the way he
smiled - As unidades de processamento são resistentes à
interrupção. Mesmo quando o click estava no meio
de um constituinte, ele era percebido como
estando na fronteira.
8A realidade psicológica da sintaxe
- 4. Percepção de fonemas, palavras e frases em um
background de ruído - Resultado Frases eram percebidas mais
prontamente do que palavras e palavras mais
prontamente do que fonemas, indicando que QUANTO
MAIS ESTRUTURA, MAIS FÁCIL A COMPREENSÃO. - 5. Percepção de frases em background de ruído
- (a) frases bem formadas Os ursos roubam mel das
colméias - (b) frases anômalas semanticamente, mas
sintaticamente bem formadas Colorless green
ideas sleep furiously - (c) frases sintaticamente mal formadas On
trains hive elephants the simplify - Resultados Sujeitos recuperaram mais palavras
das frases em a, do que das frases em b e mais
palavras das frase em b do que das frases em c,
demonstrando que a estrutura sintática tem um
papel na compreensão, até mesmo quando as
palavras não tem sentido.
9A Teoria da Complexidade Derivacional - DTC
- A primeira grande teoria em Psicolingüística foi
a Derivational Theory of Complexity de Miller e
associados. A presunção fundamental desta teoria
era a de que as frases com uma história
derivacional mais complexa deveriam ser mais
difíceis de processar. Animado por seus estudos
anteriores de que a sintaxe influencia a
compreensão, Miller e associados montaram
experimentos para testar uma versão mais forte, a
de que a compreensão usa a gramática de forma
direta. A teoria DTC funcionava assim quando uma
frase é ouvida ou lida, seu marcador superficial
é computado. Deste marcador recuperava-se o
marcador do kernel subjacente revertendo as
transformações que se aplicavam na derivação da
frase. A idéia era a de que as transformações
requeriam tempo de processamento. A cada
transformação revertida aplicava-se um tag, assim
a representação final era um kernel um
conjunto de tags. Por exemplo, quando se ouvia
uma frase como
10A DTC
- PATRICIA QUER VESTIR-SE
- CVgt PATRICIA QUER VESTIR-SE
- SSIgt PATRICIA QUERER VESTIR-SE
- REFLgt PATRICIA QUERER PATRICIA VESTIR-SE
- PATRICIA QUERER PATRICIA VESTIR PATRICIA
11A DTC
- Assim, uma frase com maior número de
transformações seria mais custosa processualmente
do que uma frase com menor número de
transformações. Vários experimentos foram
desenvolvidos não só por Miller, mas por outros
estudiosos para testar a teoria - Os primeiros estudos pareciam confirmar a teoria
- McMahon(1963)
- Afirmativa ativa
- 5 precedes 13
- Afirmativa passiva
- 13 is preceded by 5
- Negativa ativa
- 13 does not precede 5
- Negativa passiva
- 13 is not preceded by 6
- Transformação de Negação The sun is not shining
era mais difícil de compreender do que sua
contraparte afirmativa.
12A falência da DTC
- Mas diversos estudos posteriores demonstram que
outras transformações não eram mais custosas,
passando-se a interpretar o resultado da negativa
não como efeito da DTC, mas como efeito
puramente semântico. - Bever, Fodor, Garrett Mehler
- Movimento de partícula John phoned the girl
up - John phoned up the girl
- As duas frases eram processadas no mesmo tempo.
Outros estudos chegaram mesmo a verificar que
frases com mais transformações eram processadas
mais rapidamente do que contrapartes com menos
transformações. - Outros estudos retestaram ativa/passiva e também
não ofereceram suporte à teoria. Assim, os
resultados indicaram que as pessoas não parecem
produzir frases complexas aplicando
transformações mentais a sentenças simples. Ou
seja, transformações não eram psicologicamente
reais. Esse foi um revés que levou ao afastamento
da Psicolingüística da Lingüística.
13A realidade psicológica das EPs
- Outros estudos, no entanto, pareciam seguir na
linha de que as estruturas sintáticas são
psicologicamente reais. Aqueles estudos, por
exemplo, sobre - -Percepção de tons/cliques de Fodor, Bever e
Garrett os cliques eram percebidos em pontos
identificados como as fronteiras relevantes para
a EP. É desta época a introdução de diferentes
paradigmas experimentais, tais como monitoramento
de fonemas, decisão lexical, reconhecimento de
sonda. - - Sachs (1967) Os ouvintes lembram do conteúdo
de uma frase, mas não de sua forma - evidência de
que as pessoas se lembram das EPs e estas são
reais. - Wanner (1974) RECONHECIMENTO DE SONDA de
palavra na EP era mais efetiva quanto mais vezes
a palavra aparecia na EP. Assim, em Patricia
quer vestir-se, Patricia estaria mais ativo do
que em Patricia quer sair. Discutia-se a
interpretação em termos de processamento de
co-referência.
14Além da estrutura
- Entretanto, na década de 70 mesmo esta versão
mais fraca da teoria não vai sobreviver. Uma
série de experimentos realizados por Bransford
Franks demonstraram que a representação mnemônica
de uma frase inclui elementos que não estão na
EP, mas que são derivados de inferências baseados
no conhecimento do mundo. Assim, frases como - Três tartarugas descansavam sobre um tronco e um
peixe nadou por baixo delas - Podiam ser interpretadas tanto como
- - O peixe nadou por baixo das tartarugas
- - O peixe nadou por baixo do tronco
- Sendo a segunda interpretação uma inferência que
não estaria de modo algum representada na EP.
Como analisa Tannenhaus, a 2a interpretação é
inferida da frase mediante o uso de conhecimento
das relações espaciais do mundo real. Este
estudo, junto a outros chamou a atenção para a
importância de fatores não gramaticais na
compreensão, tal como o contexto.
15Anos 70
- Com gemas furtadas financiando-o, nosso herói
desafiou bravamente todo o desdém e a zombaria
com que tentavam impedir seu intento. seus
olhos vos enganam, retrucou. Um ovo, não uma
mesa, tipifica este planeta inexplorado. Agora
três irmãs obstinadas buscam as provas, forjando
seu caminho ora na calma vastidão, ora sobre
picos e vales turbulentos. Assim, os dias se
tornaram semanas enquanto os incrédulos
espalhavam boatos e temores por toda parte.
Finalmente, como que chegadas do nada, criaturas
aladas surgiram trazendo a certeza do sucesso. - (Anderson, E., 1976)
16Anos 70
- Vimos então que durante os 70s a pesquisa se
direciona para o discurso, pragmática,
inferência. Mas e os estudos de Processamento
Sintático? Houve também posições intermediárias,
que procuraram conciliar os resultados
contraditórios. Assim, propôs-se que as
estruturas sintáticas de superfície são
psicologicamente reais, mas não as
transformações. No modelo da época havia o
componente gerativo, que gerava as EPs e o
componente transformacional que convertia EP em
ES. - Os estudos com base na gramática, ainda que
marginais, continuaram, tomando um novo impulso
no fim da década de 70. Principalmente os estudos
relatados em Fodor Bever e Garrett, que haviam
sido os responsáveis por experimentos que
desconfirmaram a DTC e que procuravam uma
alternativa para aquela teoria. É dessa época o
levantamento preliminar de diferentes tipos de
frases como as frases de encaixe central e,
principalmente, as frases com ambiguidades
estruturais locais e temporárias conhecidas como
garden paths, que serão objeto de estudos,
constituindo-se na teoria do garden path,
principalmente pelo trabalho de Frazier e
associados em Amherst, já no final dos 70s e
começo dos 80, sob a égide do modelo GB.
17Bever, 1970
- A frase clássica de Bever que abre o campo do
garden path(1970) - The horse raced past the barn fell
- Frases de encaixe central também foram
reconsideradas, mas a o foco das pesquisas
centrou-se sobre o garden path . A questão por
que e sob que condições o Mecanismo Humano de
Processamento de Frases (HSPM) ou parser adota
uma análise de uma estrutura ambígua ao invés de
outra. Lança-se aí um problema central na
compreensão lingüística como se resolve a
ambigüidade. O trabalho de Bever (1970) The
Cognitive Basis for Linguistic Structure,
distingüe regras de estrutura gramatical de
heurísticas ou estratégias perceptuais.
18Bever (1970)
- Bever propôs uma série de estratégias
não-transformacionais para explicar não só
porque algumas frases são mais demoradas para
processar do que outras, mas também para tentar
explicar os erros que as pessoas cometem ao ouvir
frases. Essas estratégias já foram alvo de
muitas críticas, por não serem completas,
meramente descritivas, serem redundantes e até
mesmo por estarem simplesmente erradas. É o caso
da estratégia - NVN -gt Ator Ação Objeto
- Seus princípios tem hoje mais um valor histórico.
19As estratégias de Kimball (1973)
- Princípio I Top Down
- O parsing nas línguas naturais procede de acordo
com um algoritmo top-down. - Princípio II Right Association
- Os constituintes são preferencialmente apostos
ao nó mais baixo em construção. - Princípio III New Node
- Um item funcional assinala o início de um novo
nó. - Princípio IV Two Sentences
- Os constituintes de não mais do que dois S podem
ser parseados ao mesmo tempo. - Princípio V Closure
- Um nó deve ser fechado logo que possível
- Princípio VI Fixed Structure
- O custo da reanálise dos constituintes de um
sintagma (phrase) fechado é computacionalmente
alto. - Princípio VII Processing
- Uma vez parseado, um sintagma (phrase) deve ser
removido da área de trabalho da memória de curto
prazo.
20Kimball
- Someone shot the servant of the actress who was
on the balcony. - ( Right Association )
- Alguém baleou o empregado da atriz que estava na
varanda. - ( Right Association )
- O rato que o gato que o cachorro perseguiu mordeu
morreu. - ( Two Sentences )
- O cachorro perseguiu o gato que mordeu o rato que
morreu. - ( Closure )
- That is a nice flower/That boy is her
brother/That the boy left is surprising. - ( Top down )
- The girl pushed through the window cried
- ( Closure )
- Mãe suspeita de assassinato de filho morre
- ( Closure )
- They knew the girl was in the closet/ They knew
that the girl was in the closet. - ( New Node )
- Eles viram a menina no armário/ Eles viram a
menina entrar no armário - ( Closure )
- The girl persuaded her enemies were in the
closet.
21The Sausage Machine
- Frazier e Fodor (1978) e, principalmente, Frazier
(1979) unificam em um sistema mais econômico e
elegante as estratégias propostas durante a
década de setenta por Bever e por Kimball. Dois
princípios são inicialmente propostos Late
Closure LC (Aposição Local) e Minimal
Attachment MA (Aposição Mínima). Basicamente, o
modelo de Frazier e Fodor, que ficou conhecido na
literatura como Sausage Machine a máquina de
salsichas é composto de dois estágios um PPP
Preliminary Phrase Packager , que procede à
estruturação inicial dos itens lexicais em
sintagmas e um SSS Sentence Structure
Supervisor , responsável pela estruturação
subseqüente dos sintagmas em um marcador frasal
completo. As decisões iniciais do PPP quanto às
relações estruturais entre os nós sintáticos são
determinadas pelo LC e pelo MA. - Frazier Fodor (1978) demonstram, por exemplo,
que em uma frase como (i), o item down tende a
ser aposto mais baixo, no âmbito do SN glove,
resultando em um efeito garden-path. Já em uma
frase como (ii) em que o constituinte é mais
pesado, a frase é processada (parsed)
corretamente, podendo-se apor com mais facilidade
o constituinte ao verbo e não ao SN mais baixo - She threw the bat, the ball and the glove
down - She threw the bat, the ball and the glove down
into the mud
22A Teoria do Garden Path (Labirinto)
23TGP
- Pressupostos
- 1. Modularidade da Mente
- 2. Processador serial
- 3. Processador sintático inicial
- 4. Imediaticidade da Análise sintática
- Princípios
- 1. Aposição Mínima (Minimal Attachment)
- 2.Aposição Local (Late Closure)
- 3. Antecedente Ativo (Active Filler)
- 4. Estratégia do Antecedente mais Recente
- (Most Recent Filler Strategy)
- 5. Princípio da Cadeia Mínima (Minimal Chain
Principle) -
24Veríssimo, L.F. O Zelador do Labirinto. (2003).
Revista Ícaro, 230, RMC Editora, p. 34.
- O zelador do labirinto
- Tem também a história do zelador do labirinto.
Todos os dias ele saía de casa cedo, com sua
marmita, e entrava no labirinto. Seu trabalho era
percorrer todo o labirinto, inspecionando as
paredes e o chão, vendo onde precisava um
retoque, talvez uma mão de tinta, etc.Era um
homem metódico. Pela manhã, fazia a ronda do
labirinto, anotando tudo que havia para ser
consertado, depois saía do labirinto, almoçava,
descansava um pouquinho, e entrava de novo no
labirinto, agora com o material que necessitaria
para seu trabalho. Quando não havia nada para ser
consertado, ele apenas varria todo o labirinto e,
ao anoitecer, ia para casa. Um dia, enquanto
fazia a sua ronda, o zelador encontrou um grupo
de pessoas apavoradas. Queriam saber como sair
dali. O zelador não entendeu bem. Como, sair?
A saída! Onde fica a saída? É por ali apontou
o zelador, achando estranha a agitação do
grupo.Mais tarde, no mesmo dia, enquanto varria
um dos corredores, o zelador encontrou o mesmo
grupo. Não tinham encontrado a saída. Estavam
ainda mais apavorados. Alguns choravam. Alguém
precisava lhes mostrar a saída!
25Veríssimo, L.F. O Zelador do Labirinto. (2003).
Revista Ícaro, 230, RMC Editora, p. 34.
- Com uma certa impaciência, o zelador começou a
dar a direção. Era fácil. Saiam por ali e virem
à esquerda. Depois à direita, depois à esquerda,
esquerda outra vez, direita, direita, esquerda...
Espere! gritou alguém. Ponha isso num
papel.Sacudindo a cabeça com divertida
resignação, o zelador pegou seu caderno de notas
e toco de lápis e começou a escrever. Deixa eu
ver. Esquerda, direita, esquerda,
esquerda.Hesitou. Não, direita. É isso.
Direita, direita, esquerda... Ou direita outra
vez?O zelador atirou o papel e o lápis no chão
como se estivessem pegando fogo. Saiu correndo,
com todo o grupo atrás. Também estava apavorado.
Aquilo era terrível. Ele nunca tinha se dado
conta de como aquilo era terrível. Corredores
davam para corredores que davam para corredores
que davam numa parede. Era preciso voltar pelos
mesmos corredores, mas como saber se eram os
mesmos corredores? A saída! Onde fica a saída?A
administração do labirinto teve que procurar um
novo zelador, depois que o desaparecimento do
outro completou um mês. Podia adivinhar o que
tinha acontecido. O novo zelador não devia ter
muita imaginação. Era preferível que nem soubesse
ler e escrever. E em hipótese alguma devia falar
com estranhos. -
26Garden-paths
- João comprou a flor para Susana/John bought the
flower for Susan - João viu o turista com o binóculo
- João disse que o professor voltará ontem
- João viu o cúmplice do ladrão que fugiu
27HSPM
- A velocidade do processamento
- O mecanismo humano de processamento de frases ou
parser aplica a gramática mental muito
rapidamente - Audição Aproximadamente 300ms por palavra
3 4 sílabas por segundo (1 segundo um
chimpanzé" ), - mas duas vezes mais rápido é compreensível.
- Leitura Silenciosa de 200 a 350 palavras por
minuto - aproximadamente 170 - 300ms por palavra
- A leitura dinâmica alcança de 2,000 10,000
palavras por minuto!
28Como o parser procede?
- O parser atribui estrutura à cadeia de palavras
incrementacionalmente (palavra a palavra, sem
esperar pela informação completa). - A construção da estrutura é serial, algoritmica,
determinística exeto quando encontra
AMBIGÜIDADE, incluindo a AMBIGÜIDADE TEMPORÁRIA.
Nesses casos, a gramática não determina a análise
da cadeia de palvras. - O parser deve, então, adivinhar que análise o
falante pretendeu. (Há poucas evidências para
ação retardada ou paralela) - No caso de ambigüidade plena, um chute
incorreto ? incompreensão. No caso de ambigüidade
temporária ? um garden path (crash!) - Se o chuteestiver correto, não há problema.
Se estiver errado, o parser precisará reanalisar
a frase.
29Ambigüidade plena e temporária
- Ivo detesta Pedro e Maria e Luís não.
- e
- e
- Ivo detesta Pedro e Maria não.
30Ambigüidades Temporárias
- Ian knows Thomas is a train
- Ivo viu Pedro sair
- onset área ambígua resolução
- Analisemos a frase Ian knows Thomas is a train
. (em português, uma estrutura equivalente
seria João viu Pedro sair). Nesta frase o
onset, início da ambigüidade qual é? É o verbo
know, que permite tanto um complemento nominal
quanto um complemento sentencial. a ambigüidade
é resolvida pela presença do verbo be, que
assinala um complemento sentencial. Aqui dá-se o
garden path. A área entre o onset da ambigüidade
e a sua resolução é a área ambigua da frase. Na
frase é o SN Thomas. - É importante notar que estas áreas da frase são
independentes das propriedades particulares do
modelo de parsing que se assume. Estes são fatos
que não decorrem do modelo. Independentemente de
o parser fazer uso de informação sobre a grade
de subcategorização do verbo, a frase é ambígua.
31Imediaticidade da Análise
- O Princípio da Imediaticidade (Just e Carpenter
(1980/87) É um princípio de parsing global,
descreve características gerais do processo e não
estratégias específicas de construção.
Basicamente, as mensagens lingüísticas consistem
de cadeias de palavras, encontradas uma a uma.
Uma vez pronunciadas estas palavras desaparecem.
Vimos que sua retenção perceptual na memória
sensorial é de quanto tempo? Cerca de 4 segundos.
Como então conseguimos processar frases
complexas, que requerem operações mentais
diversas tão prontamente? A questão é tratada
pelo Princípio da Imediaticidade da Análise,
segundo o qual as palavras são estruturadas logo
que encontradas.
32- Observe-se que há três alternativas lógicas a
esse respeito - 1. O parser atrasa a computação até que o ponto
de ambiguidade seja identificado e só então
constrói a árvore correta - 2. O parser computa todas as análises distintas
em paralelo - 3. O parser computa uma única análise sintática
imediatamente e a mantém até que seja contradita,
quando então deve retornar para reanalisar a
frase. - A imediaticidade é justificada pelo garden-path e
porque tem a vantagem de evitar a explosão
computacional, ou seja, a memória de curto prazo
teria dificuldades em manter diferentes
alternativas sintáticas e semânticas ativas até
que uma delas fosse a escolhida. Singer (p.70)
exemplifica com a ambigüidade semântica de
flower/flour , que deixaria 4 alternativas a
serem mantidas até que o processo interpretativo
pudesse resolver a ambigüidade. Seria uma carga
pesada demais para a memória de curto prazo. Na
verdade a própria existência de garden path
indica qual a opção mais viável
33Explosão computacional
- John bought the flower for Susan.
- John bought the flower for Susan
- John bought the flour for Susan.
- John bought the flour for Susan
34Frazier Rayner, 1982
35A teoria do Labirinto(Teoria do Garden Path)
- Em resumo, as afirmações fundamentais da Teoria
do Garden Path são - o parser usa uma porção do seu conhecimento
gramatical isolado do conhecimento do mundo e de
outras informações para a identificação inicial
rápida e reflexa das relações sintagmáticas
(encapsulamento informacional) - o parser confronta-se com sintagmas de aposição
ambígua e compromete-se com uma estrutura única
(comprometimento mínimo) - pressionado pela arquitetura do sistema de
memória de curto prazo, que tem um limite
estreito de processamento e armazenamento, o
parser segue um princípio psicológico na escolha
dessa estrutura use o menor número possível de
nós (Aposição Mínima) e, se duas aposições
mínimas existem, aponha cada nova palavra ao
sintagma corrente (Aposição Local)
36TGP
- Para estabelecer relações de longa distância, o
parser usa o conhecimento da estrutura para - identificar um elemento ativo na periferia
esquerda e associá-lo à primeira lacuna
disponível (Antecedente Ativo) - associar uma lacuna ao antecedente mais recente
(Antecedente Mais Recente) - postular rapidamente análises com menos cadeias e
cadeias com menos elos (Princípio da Cadeia
Mínima) - o parser distingüe entre relações sintáticas
primárias e secundárias, aplicando os princípios
acima apenas para o processamento das relações
primárias (Construal).
37Aposição Mínima
- O parser aplica uma série de princípios de
decisão ou estratégias que favorecem árvores
simples e compactas. Tais estratégias dizem
respeito, fundamentalmente, à geometria da árvore
sintática, embora a freqüência possa também
contribuir. - Minimal Attachment Attach an incoming item
into the sentence structure using as few nodes as
possible. - (Frazier 1978)
38Aposição Mínima
- VP
- / \
- SN V
- Mãe / \
- suspeita SP
- / \
- de SN
- \
- N
- / \
- assassinato SP
- /__\
- do filho foge?
39Aposição não-mínima
- VP
- / \
- SN V
- /____\ foge
- Mãe suspeita
- de assassinato do filho
40Aposição Mínima(Frazier Rayner, 1982)
- 1. We figured that Tom probably forgot the
flashlight. (Aposição mínima) - Nós imaginamos que Tom provavelmente esqueceu a
lanterna - 2. Tom probably forgot the flashlight had been
stolen. (Aposição Não-Mínima) - Tom provavelmente esqueceu que a lanterna tinha
sido roubada
41Aposição Mínima
- Nas frases (1) e (2), o princípio de parsing
relevante, segundo Frazier Rayner (1982), é a
Aposicão Mínima (Minimal Attachment, MA). Em (1)
e (2), o SN the flashlight a lanterna apresenta
ambigüidade estrutural temporária entre uma
análise como objeto direto do verbo forgot
esqueceu ou como sujeito de oração subordinada
substantiva objetiva direta, pois esse verbo
admite como complemento tanto um SN quanto uma
oração. A predição do princípio da Aposição
Mínima é a de que o parser deve apor o material
que vai encontrando ao marcador frasal em
construção, usando o menor número de nós
sintáticos, de acordo com as regras de boa
formação da língua (p. 180). Assim, tanto em (1)
quanto em (2), a preferência mínima será por
incorporar o SN the flashlight como objeto direto
de forgot e não como sujeito de complemento
oracional, pois a primeira análise requer a
postulação de menos nós sintáticos. Essa decisão
revela-se acertada em (1), mas não em (2),
estrutura não-mínima, que leva o parser ao
garden-path. Ao encontrar a forma verbal had been
tinha sido, o parser notará que a decisão
mínima não funcionou nesse caso e precisará
reanalisar o SN the flashlight como sujeito da
oração objetiva direta.
42O Processamento de concatenações sintáticas em
três tipos de estruturas frasais ambíguas em
PortuguêsMarcus Maia,Shelen Alcântara, Simone
Buarque,Fernanda Faria (UFRJ)
- Reportam-se neste artigo estudos de questionário
e experimentos de leitura auto-monitorada sobre
três tipos de concatenações sintáticas ambíguas
em português orações iniciadas por QUE,
ambíguas entre aposição como complemento ou como
adjunto formas verbais ambíguas entre a flexão
de presente do indicativo ou o particípio
passado sintagmas preposicionais ambíguos entre
aposição ao sintagma verbal ou ao sintagma
nominal. Analisam-se essas duplas possibilidades
de concatenações nos termos de Frazier Clifton
(1996), respectivamente, como relações
sintáticas primárias e secundárias, mapeando-as
em termos da caracterização apresentada em
Chomsky (2001). Os resultados permitem corroborar
a atuação no processamento de frases em português
do Princípio da Aposição Mínima (Fodor e Frazier,
1978 Frazier, 1979) e apontam no sentido do
encapsulamento do parsing sintático.
43O Processamento de concatenações sintáticas em
três tipos de estruturas frasais ambíguas em
PortuguêsMarcus Maia,Shelen Alcântara, Simone
Buarque,Fernanda Faria
- Os três estudos reportados a seguir investigam o
comportamento do parser quando defrontado com
dupla possibilidade de concatenação sintática.
Embora testando três tipos de ambiguidades
sintáticas distintas, os estudos têm como
referência a Teoria do Garden Path e adotam os
mesmos procedimentos experimentais. São
conduzidos, em um primeiro momento, estudos
offline, com base em questionários a serem
completados por voluntários, sem medida de tempos
em milésimos de segundos. Em um segundo momento,
os três estudos reportam experimentos de leitura
auto-monitorada, utilizando o programa Psyscope,
a fim de medir tempos de leitura em milésimos de
segundos. - O primeiro estudo analisa as preferências de
aposição sintática no caso de orações
subordinadas iniciadas por QUE, que têm como
matriz uma oração nucleada por um verbo
dicendi. A ambigüidade decorre da possibilidade
de integrar a subordinada como substantiva
objetiva direta ou como adjetiva, formando um SN
complexo. Observe-se que, no caso da preferência
pela aposição como substantiva, o processador
será conduzido a um efeito labirinto
(garden-path), pois não terá como integrar a
oração subseqüente, precisando voltar e
reanalisar a segunda oração como adjetiva - (1) A babá explicou para a criança / QUE estava
sem sono / que a mamãe iria chegar à noite.
44- O segundo estudo investiga estruturas em que uma
forma verbal ambígua entre presente do indicativo
e particípio se segue a um SN, admitindo ser
aposta a ele como um verbo principal ou como uma
oração adjetiva reduzida, formando um SN
complexo. Como se observa no exemplo em (2), a
preferência pela aposição como verbo no presente
do indicativo poderá levar o leitor ao efeito
garden-path, pois ao encontrar a oração
subseqüente não terá como integrá-la no primeiro
passe, já que se comprometeu com a estrutura
mínima. Deverá, então, reanalisar sintaticamente
a estrutura, de forma não mínima, isto é,
interpretando a forma verbal como particípio,
formando um SN complexo - (2) A empresária /PAGA com antecedência de um
mês/ exige exclusividade. - Finalmente, o terceiro estudo explora a
compreensão de estruturas em que um sintagma
preposicional pode apresentar ambigüidade de
aposição sintática como um adjunto adverbial ou
como um adjunto adnominal, formando um SN
complexo - (3) O policial /viu o turista/com o binóculo.
- Observe-se que o SP com o binóculo, no exemplo
acima, pode ser tomado como o instrumento com o
qual o policial viu o turista (estratégia de
aposição do SP ao SV) ou como um modificador do
SN o turista (estratégia do SN complexo, não
mínima). Os três estudos têm em comum ainda o
fato de haverem manipulado efeitos semânticos
e/ou pragmáticos, tanto nos estudos de
questionário, quanto nos experimentos de leitura
auto-monitorada, com a finalidade de investigar a
interferência de fatores não estritamente
estruturais no processamento sintático.
45O Processamento de concatenações sintáticas em
três tipos de estruturas frasais ambíguas em
PortuguêsMarcus Maia,Shelen Alcântara, Simone
Buarque,Fernanda Faria (UFRJ)
- 1. Oração Substantiva x Oração Adjetiva.
- O patrão disse ao funcionário que nunca
chegava atrasado que lhe daria aumento. - 1.1. Estudo de questionário
- Um questionário com frases para serem
completadas foi aplicado em 40 alunos de
graduação da UFRJ. O questionário continha 60
frases (20 experimentais 40 distratoras), em
duas versões P ( plausibilidade de aposição ao
SN) and P (- plausibilidade de aposição ao SN). - Exemplos
- P Havia várias crianças na creche. A babá
explicou para a criança que....... - -P Havia só uma criança na creche. A babá
explicou para a criança que..... - Resultados
- Oração substantiva 275 dados 68,75
- Oração adjetiva 125 dados 31,25
- TOTAL 400 dados
100 - Tabela 1 Resultados do questionário P
- Oração substantiva 353 dados 88,25
- Oração adjetiva 23 dados 5,75
- Ambíguas 20 dados 5,00
- Bão preenchido 4 dados 1,00
- TOTAL 400 dados 100
46O Processamento de concatenações sintáticas em
três tipos de estruturas frasais ambíguas em
PortuguêsMarcus Maia,Shelen Alcântara, Simone
Buarque,Fernanda Faria
471.2. Estudo on-line
- 24 alunos de graduação da UFRJ foram voluntários
de um experimento de leitura auto-monitorada não
cumulativa com 16 conjuntos experimentais 32
distratores em um desenho between-subjects ,
incluindo 4 condições - PL(Plausível longa) Havia duas crianças na
sala. / A babá explicou para a criança / que
estava sem sono / que a mamãe só iria chegar à
noite. - -PL (-Plausível longa) Havia uma criança na
sala. / A babá explicou para a criança / que
estava sem sono / que a mamãe só iria chegar à
noite. - PC (Plausível curta) Havia duas crianças na
sala. / A babá explicou para a criança / que a
mamãe só iria chegar à noite. - -PC (-Plausível curta) Havia uma criança na
sala. / A babá explicou para a criança / que a
mamãe só iria chegar à noite.
48Tempos médios de leitura do segmento crítico
PC 1775
-PC 1759
PL 2329
-PL 2364
PC 1767
PL 2346.5
492. Concatenação de SN sujeito a verbo principal
ou a oração adjetiva reduzida
- O tipo de estrutura examinado nesse estudo é
equivalente ao famoso exemplo de Tom Bever The
horse raced past the barn fell. - Usando técnica de monitoramento da fixação
ocular (eye-tracking), Ferreira Clifton
encontraram evidência contra o uso imediato da
informação temática. Observem-se, a título de
exemplo, um dos conjuntos de frases estudadas
por eles - (1) The defendant examined by the lawyer was
unreliable. - O réu examinou/examinado pelo advogado não
era confiável - (2) The evidence examined by the lawyer was
unreliable - A prova examinou/examinada pelo advogado não
era confiável - Os autores encontraram o mesmo padrão de leitura
para os dois tipos de frase, concluindo que os
leitores sempre perseguem a análise em termos de
oração principal, em conformidade com o
Princípio da Aposição Mínima, sem levar em conta
no processamento inicial a informação de natureza
semântica. -
502.1. Estudo de questionário
- Em Português, um tipo equivalente de ambiguidade
ocorre com formas tais como oculta, suspeita,
paga, etc., nas quais a forma verbal é ambígua
entre a 3a pessoa do singular no presente e o
particípio. Foram preparados dois questionários,
contendo cada um 16 frases experimentais e 32
frases distratoras, que foram completados por 17
voluntários, alunos de graduação da UFRJ. Um dos
questionários utilizava SNs do tipo humano e
o outro SNs do tipo -humano, como
exemplificado em (1) e (2), a seguir - (1) A repórter oculta...
- (2) A rocha oculta...
51Resultados
52Resultados específicos
532.2. Estudo on line
54On-line
55(No Transcript)
563. Concatenação de SP a SV ou a SN
- A ambigüidade de aposição de SPs é uma das mais
estudadas em inglês. Vários estudos aferiram
tempos de leitura dessas estruturas, demonstrando
que, em geral, leva-se mais tempo para ler SPs
que demandam aposição ao SN do que SPs apostos ao
SV. A conclusão tem sido a de que os leitores,
guiados pelo princípio da aposição mínima, fazem
uma aposição inicial do SP ao SV, sendo forçados,
posteriormente a revisar esta análise, quando ela
se revela inadequada. (cf. Altmann, 1986
Ferreira Clifton, 1986 Frazier, 1978 Rayner,
Carlson and Frazier, 1983, Sedivy
Spivey-Knowlton, 1994) - The gang leader hit the lawyer with a whip.
- The gang leader hit the lawyer with a wart.
57Estudo de questionário
- Foram preparados dois questionários contendo cada
um 20 frases experimentais e 40 frases
distratoras, a serem respondidas por 40
voluntários, alunos de graduação da UFRJ. Em
ambos os questionários havia uma frase inicial
que pretendia funcionar como um contexto para a
frase seguinte, onde ocorria a ambigüidade de
aposição do SP. No primeiro grupo, havia um
contexto que afirmava a existência de um único
referente, enquanto que, no segundo grupo, o
contexto introduzia mais de um referente
possíveis, com vistas a favorecer a aposição
baixa do SP, como exemplificado em (1) e (2), a
seguir - (1) Contexto Plausível Havia um turista no
parque. - O policial viu o turista com o binóculo.
- (2) Contexto Plausível Havia dois turistas no
parque. - O
policial viu o turista com o binóculo.
58Resultados
59On-line
- Projetou-se um experimento de leitura
auto-monitorada, em que 24 sujeitos foram
solicitados a ler, da forma mais natural e
rapida possível, duas orações segmentadas,
conforme indicado pelas barras oblíquas, nos
exemplos abaixo. Cada sujeito foi exposto a 16
frases experimentais, apresentadas randomicamente
com 32 distratoras, totalizando 48 frases. As
frases experimentais distribuíam-se em quatro
condições, a saber, PB ( plausível baixa), PA
(plausível alta), -PB (-plausível baixa) e PA
(-plausível alta). As frases experimentais foram
comparadas entre-sujeitos, evitando-se que um
mesmo sujeito fosse exposto a mais de uma versão
da mesma frase. Um conjunto experimental completo
é exemplificado a seguir - .PB Havia dois turistas no parque./ O policial
/ viu o turista /com a ferida aberta. - PA Havia dois turistas no parque./ O policial
/ viu o turista /com o binóculo preto. - -PB Havia um turista no parque./ O policial /
viu o turista /com a ferida aberta. - -PA Havia um turista no parque./ O policial /
viu o turista/com o binóculo preto.
60(No Transcript)
61Conclusões
- Os três estudos permitiram demonstrar a
existência de efeitos garden-path em português,
provocados pela atuação do Princípio da Aposição
Mínima (Frazier e Fodor, 1978 Frazier, 1979),
que orienta o parser a decidir pela computação
menos complexa sintaticamente. Os três estudos
apresentaram também uma simetria interessante no
que diz respeito aos resultados dos questionários
offline, comparativamente aos estudos de leitura
auto-monitorada online. De modo geral, os estudos
offline apresentaram maior sensibilidade a
efeitos semânticos e pragmáticos, enquanto que os
resultados dos estudos online parecem sugerir
que estes fatores estariam menos disponíveis ao
parser do que as informações estritamente
estruturais. - Os dados experimentais sobre o português
permitiram estabelecer que as relações do tipo
primário são mais prontamente estabelecidas no
parsing do que as relações secundárias que,
inclusive, na análise de Chomsky (2001), requerem
uma operação a mais do que as primeiras, a
simplificação. Nesse sentido, o artigo pretendeu
argumentar em favor da realidade psicológica dos
princípios gramaticais, sugerindo que o
desempenho do parser não é apenas determinado por
fatores extra-lingüísticos, como os limites de
memória de trabalho, mas que seu funcionamento é,
fundamentalmente, decorrente dos princípios que
norteiam a gramática.
62Aposição Local
- Aposicão Local (Late Closure, LC) Quando
possível, aponha os itens lexicais que vão sendo
encontrados à oração ou sintagma correntemente
sendo processado, ou seja, o nó não terminal
mais baixo possível dominando o último item
analisado - Late Closure When possible, attach incoming
lexical items into the clause or phrase currently
being processed (i.e., the lowest possible
nonterminal node dominating the last item
analyzed).
63Late Closure
Aposição não-local custo de processamento
- Maria viu o presente para o menino na caixa.
- Mary saw a gift for a boy
NP
PP
P
NP
para
o menino
64Aposição Local
- Frazier Rayner (1982) apresentam um experimento
em que registraram os movimentos oculares de
sujeitos na leitura de frases contendo
ambigüidades estruturais temporárias, tais como - Since Jay always jogs a mile this seems like a
short distance to him. (Late Closure ou Aposição
Local) - Como Jay sempre corre uma milha isso parece
perto para ele - Since Jay always jogs a mile really seems like a
very short distance to him. (Early Closure ou
Aposição Não-Local) - Como Jay sempre corre uma milha realmente
parece muito perto para ele
65- No exemplo em (2), a estratégia LC é aplicada,
atrasando-se o fechamento do sintagma verbal,
cujo núcleo é um verbo que pode ser transitivo ou
intransitivo, para incluir-se o sintagma nominal
a mile uma milha como objeto direto. A operação
do parser é bem sucedida e não há garden path
(efeito labirinto). Já em (3), a aplicação da
estratégia é mal sucedida e diz-se que o parser é
garden-pathed, ou seja, perde-se no labirinto.
Guiado pelo LC, optou por atrasar o fechamento do
SV para incluir o SN como objeto do verbo, mas,
ao tentar continuar o processamento da frase,
dá-se conta de que se perdeu no labirinto.
Precisa, então, rever a análise, pois a
estrutura, nesse caso, requeria o EC, o
fechamento imediato do SV, sem incluir aí o SN a
mile, que deverá ser, agora, reanalisado como
sujeito da próxima oração.
66Late Closure em PB(Ribeiro, 2002)
- Frazier (1978) obteve evidências preliminares
para a estratégia Late Closure usando uma tarefa
de apresentação visual em que as palavras de uma
frase eram apresentadas não-cumulativamente a uma
velocidade de 300-350ms por palavra. Os sujeitos
indicavam ao final da apresentação se a frase era
gramatical. Os tempos de decisão mais rápidos
ocorriam quando as frases obedeciam a
interpretação prevista pelo princípio de
localidade (late closure) do que quando as frases
eram resolvidas pela aposição não local (early
closure). - Ilustram-se abaixo dois dos tipos de frases
testadas por Frazier - (1) a. Mary kissed John and his brother when she
left. ( 1065ms) - b. Mary kissed John and his brother
started to laugh. (1667ms) - (2) a. Anne was watching you she laughed and
nobody knew why (1037 ms) - b. Anne was watching you were laughing and
nobody knew why (1598 ms) - Ribeiro (2002) aplicou um experimento de leitura
auto-monitorada em que 48 alunos de graduação da
UFRJ foram expostos a estruturas equivalentes em
PB
67(No Transcript)
68Resultados
- Os tempos de leitura do terceiro segmento
(segmento crítico) foram registrados e os
resultados indicaram que as estruturas de
aposição local (LC) foram lidas mais rapidamente
do que as estruturas não locais (EC). Os tempos
de leitura dos controles semânticos não foram
significativamente diferentes do que os tempos de
leitura dos segmentos críticos nas estruturas
locais. - Tipo 1
- EC 1953 ms LC 1141 ms (p 0, 0003)
- SC 1370 ms LC 1141 ms (p 0,2)
-
- Tipo 2
- EC 2227 ms LC 1444 ms (p 0, 003)
- SC 1511 ms LC 1444 ms (p 0,7)
69Teoria do Garden Path Dependências de longa
distância
- 3 princípios foram postulados no âmbito da TGP
para dar conta de dependências anafóricas - Antecedente Ativo (Active Filler)
- Antecedente Mais Recente (Most Recent Filler)
- Cadeia Mínima (Minimal Chain Principle)
70Questões
- Como o parser lida com frases em que
constituintes a serem relacionados não ocorrem em
suas posições canônicas, ou seja, frases com
dependências de longa distância com vazios (gaps)
e antecedentes (fillers)? Dois problemas para o
parser (1) Uma cv não se manifesta no sinal
acústico, devendo sua presença ser inferida
indiretamente (2) O antecedente distante
questiona a localidade da construção da
representação estrutural. - Assim, as CVs têm sido um tópico central na
pesquisa em processamento há 3 décadas. São
reveladoras sobre a própria arquitetura do
sistema de processamento -
71Vestígios de QU
- Which booki is John reading __i?
- Que livroi o João está lendo __i ?
-
- Como computar a coindexação? O vestígio nem
sempre está logo após o verbo ou no fim da frase
- Which booki is John reading __i about__i ?
72Active Filler
- Que problemas estas construções de longa
distância do tipo antecedente/categoria vazia
levantam para o processador gramatical? - 1. Identificação do antecedente preenchedor da
lacuna - Detecção do antecedente em COMP
- 2. Identificação da Lacuna
- Postulação da lacuna é imediata? Postergada?
Info lexical é acessada? - 3. Coindexação do antecedente à lacuna
- Ambigüidades podem ocorrer quando mais de um
antecedente possível estão presentes.
73Efeito da lacuna preenchida(Filled gap effect)
- O processador aproveita a informação sobre o
antecedente? - Crain Fodor (1985) mostraram que sim
- Whoi did the child ask __i to sing the song?
- Whoi did the child ask us to sing the song for
__i? - (2) é mais difícil de processar do que (1),
indicando um efeito surpresa. O parser
identificou o antecedente em posição sem função
gramatical e papel temático e procura uma lacuna
para coindexá-lo, satisfazendo, assim, tão logo
quanto possível os requisitos gramaticais.
Entretanto, a primeira posição de postulação da
lacuna está preenchida.
74Active Filler
- O processador usa regras de estrutura de frase
para criar estruturas sintagmáticas ? ou - O processador usa núcleos de Sintagmas para criar
a estrutura? - As lacunas, por exemplo, poderiam ser postuladas
à base de regras de estrutura de frase ou à base
de informação lexical particular. Por exemplo, a
possibilidade de uma lacuna é entretida à base
do SV ou precisa ser atrasada até o verbo nuclear
ser identificado e seu status como transitivo ser
determinado? - A lacuna é postulada como first resort.
- Clifton Frazier. (1989). Comprehending
Sentences with Long Distance Dependencies. In
G. Carlson M. Tanenhaus (eds). Linguistic
Structure in Language Processing.
75Hipótese do Antecedente Ativo Active Filler
Hypothesis
- Quando um antecedente é identificado em posição
não-argumental (COMP), a possibilidade de
postular uma lacuna para este antecedente é maior
do que a de identificar um SN. Na p. 292, FC
apresentam evidências para a HAA - Who did Fred tell Mary left the country
- A interpretação favorita desta frase é
- Who-i did Fred tell ___-i Mary left the country
- E não
- Who-i did Fred tell Mary ____-i left the country.
76Most Recent FillerFrazier, Clifton Randall
(1983)
- Antecedente Recente
- This is the girl the teacher wanted __ to talk to
__. - Antecedente Distante
- This is the girl the teacher wanted __ to talk
- As frases com antecedente distante foram mais
difíceis de serem compreendidas do que as frases
com antecedente recente
77 Minimal Chain PrincipleDe Vicenzi, M. (1996).
Syntactic Analysis in Sentence ComprehensionEffec
ts of Dependency Types and Grammatical Constraints
- Neste trabalho, Vicenzi apresenta 3 experimentos
sobre o parsing de questões-QU em Italiano, onde
são manipuladas as seguintes variáveis - 1. tipo de Qu (Quem/Qual)
- 2. Sítio de extração do Qu (oração principal,
oração dependente com e sem complementizador) - O objetivo destas manipulações é o de verificar
se o parser é sensível ao tipo de dependências
processadas e se os efeitos de processamento
podem ser explicados por um princípio único de
processamento o Princípio da Cadeia Mínima (MCP
- Minimal Chain Principle). Os resultados
demonstram que o parser, seguindo o MCP, prefere
estruturas com menos cadeias e com cadeias menos
complexas.
78Princípio da Cadeia Mínima
- A autora incia discutindo algumas das questões
que podem ser levantadas no estudo de
dependências do tipo QU - 1. Como o parser funciona? Há um uso imediato e
automático da gramática? - 2. Caso afirmativo, que tipo de gramática melhor
caracteriza a gramática mental? - 3. Que estratégias de parsing são usadas p/ levar
do input perceptual à interpretação? - Uma abordagem experimental para estas questões
consiste em investigar frases com ambiguidades
estruturais, tais como sub/obj com Qu em
Italiano - Chi ha chiamato Gianni?
- Quem chamou o João?
- Quem-ie-i chamou o João
- Quem-i e-j chamou e-i o João-j
- A razão para estudar frases contendo ambiguidades
estruturais . Qual é? Não é tanto para saber como
o parser resolve estas ambiguidades em si, embora
a língua natural esteja cheia de ambiguidades,
mas a lógica é Se o parser demonstra uma
preferência sistemática por uma maneira de
resolver as ambiguidades, então temos um insight
sobre o sistema de compreensão.
79Princípio da Cadeia Mínima
- Evite postular membros da cadeia desnecessários,
mas não atrase a postulação de membros
necessários.
80PCM
- Por que o parser tem esta urgência de completar
uma cadeia? A razão final para estruturar
material em uma representação sintática é atingir
a interpretação semântica de cada frase. Uma
tarefa essencial para se chegar à interpretação
semântica é emparelhar cada SN com uma posição
argumental de um predicado. Assim, para
interpretar uma frase temos de saber quem fez o
que para quem. Uma cadeia liga todas as posições
em uma oração pela qual e para a qual um SN se
moveu, contendo informação sobre as posições que
atribuem caso e papel temático que licenciam uma
oração. Nos caso em que os SN se moveram, isto
é, estão fora de sua posição argumental canônica,
há uma pressão sobre o parser para que este
construa a cadeia mais curta para os elementos QU
a fim de ligá-lo logo a uma posição que possa
receber caso, papel temático, logo que possível,
a fim de que a interpretação semântica seja
viabilizada.
81PCM
- A autora considera que na teoria GB, trabalhos
de Cinque, 92 e Rizzi 90, entre outros,
propuseram a existência de uma diferença
sintática entre elementos QU, no que se refere a
elementos QU não referenciais, como quem, o que e
elementos QU referenciais como qual-N, sendo os
primeiros regidos por cadeias de regência pelo
antecedente e os segundos por relações de
vinculação. A autora faz a hipótese de que
apenas os QU não referenciais são regulados pelo
MCP, sendo os referenciais D-linked, ligados
discursivamente (Pesetsky,87). A idéia intuitiva
de ligação discursiva (D-linked) é a de que um
elemento se refere a um grupo de objetos
existentes na representação discursiva, podendo
receber uma interpretação diretamente através de
suas propriedades de ligação discursiva, enquanto
os tipos não referenciais (quem, o que) só podem
ser enviados para o componente interpretativo se
ligados a estrutura argumentativa de um verbo, na
sintaxe.
82PCM
- Experimento 1 Testa o processamento de
dependências QU em interrogativas simples com
ambiguidade estrutural suj/obj em Italiano. Os
participantes foram 40 alunos da U. de Roma. O
experimento usou 24 questões QU que eram ambiguas
entre a interpretação do QU como sujeito ou como
objeto. O SN pós-verbal portava informação
desambiguizadora à base de plausibilidade. A
tarefa era a leitura auto-monitorada. Os sujeitos
apertavam um botão que controlava o aparecimento
de segmentos das frases na tela de um micro. Cada
questão QU era seguida por uma pergunta sobre a
compreensão, a que os sujeitos deviam responder
apertando um botão sim ou um botão não. Havia
portanto 3 medidas dependentes - 1. Tempo de leitura de cada segmento
- 2. Tempo de resposta às perguntas de compreensão
- 3. Índice de acertos nas perguntas de compreensão.
83PCM
- 1. QU n-ref (QUEM) com interpretação sujeito
- Quem-i ___-i demitiu o metalúrgico sem dar
aviso prévio? - 2. QU n-ref (QUEM) com interpretação objeto
- Quem-i ___-j demitiu ___-i o proprietário-j sem
dar aviso prévio? - 3. QU ref (QUAL) com interpretação sujeito
- Qual engenheiro-i ___-i demitiu o metalúrgico
sem dar aviso prévio? - 4. QU ref (QUAL) com interpretação objeto
- Qual engenheiro-i ___-j demitiu___-i o
proprietário-j sem dar aviso prévio?
84PCM
- Estas 24 frases (seis por condição) foram
espalhadas entre 74 distratores com diferentes
estruturas. Cada sujeito viu apenas uma versão de
cada quádruplo, sendo exposto a todas as
condições. - Quais eram as predições?
- 1. QU em posição SUJEITO devem ser preferenciais
aos QU em posição Objeto, pois nestas estruturas
o SN pós-verbal (objeto) está gerado na base aí
mesmo, sem precisar mover-se. Assim, o QU em
posição objeto deveria ser desfavorecido pois é
mais custoso em termos de cadeias, já que tem uma
cadeia para o elemento QU e para o SN-pós verbal.
- 2. Deve haver vantagem de processamento adicional
para a extração do QU nref SUJ (QUEM), pois na
extração do QU nref (QUEM) em posição objeto, o
parser que seguira o MCP completando a cadeia
imediatamente tem que reanalisá-la quando por
razões de plausibilidade o SN pós-verbal é o
Sujeito. - 3. No caso das interrogativas com QU ref. (QUAL),
o parser não segue o MCP e sim a ligação
discursiva. Assim, não postula uma cadeia
imediatamente, esperando todos os argumentos do
verbo serem recebidos para então coindexar o
sintagma QU com a posição vazia adequada.
Portanto quando por razões de plausibilidade o SN
pós verbal é interpretado preferencialmente como
agente, a única posição disponível para coindexar
o QU é a de objeto. Se, por outro lado, a
plausibilidade indicar que o SN pós-verbal é um
objeto, então o QU é coindexado com o sujeito,
não havendo qualquer reanálise para este tipo de
QU ref.
85PCM
- RESULTADOS
- A preferência geral pela extração do QU-suj em
rel ao QU-obj nas orações com QU nref (QUEM)
tanto em termos dos tempos de leitura, quanto em
termos de COMPREENSÃO é patente nos resultados
estatisticamente robustos - QU n-ref (QUEM) SUJ 2,171ms 89 corretos
- QU n-ref (QUEM) OBJ 2,569ms 81 corretos
- QU ref (QUAL) SUJ 2, 577ms 90 corretos
- QU ref (QUAL) OBJ 2,648ms 87 corretos
- Constatou-se, igualmente, que nas frases com QU-
ref(QUAL), tal assimetria não ocorre, como
previsto. Apenas os tempos gerais de
processamento são mais elevados em decorrência do
SN extra que deveria ser processado aí.