Title: Educa
1Educação bilíngue para surdos o novo desafio
das escolas inclusivas
Profª. Mrs. Ana Carla Ziner Nogueira
anaczinern_at_ufrrj.br
2Quem é seu aluno?
3Para compreender as identidades de seus alunos,
devem considerar
- Estudos Culturais e Linguísticos
- Identidades e Práticas Sociais
- História da Educação de Surdos
4ESTUDOS CULTURAIS (EC)(Segundo Costa, Silveira
Sommer, 200337)
- Os Estudos Culturais (EC) vão surgir em meio
às movimentações de certos grupos sociais que
buscam se apropriar de instrumentais, de
ferramentas conceituais, de saberes que emergem
de suas leituras do mundo, repudiando aqueles que
se interpõem, ao longo dos séculos, aos anseios
por uma cultura pautada por oportunidades
democráticas, assentada na educação de livre
acesso. Uma educação em que as pessoas comuns, o
povo, pudessem ter seus saberes valorizados e
seus interesses contemplados.
5ESTUDOS CULTURAIS (EC)(Segundo Costa, Silveira
Sommer, 200336)
- Cultura transmuta-se de um conceito
impregnado de distinção, hierarquia e elitismos
segregacionistas para um outro eixo de
significados em que se abre um amplo leque de
sentidos cambiantes e versáteis. Cultura deixa,
gradativamente, de ser domínio exclusivo da
erudição, da tradição literária e artística, de
padrões estéticos elitizados e passa a
contemplar, também, o gosto das multidões. Em sua
flexão plural - culturas - e adjetivado, o
conceito incorpora novas e diferentes
possibilidades de sentido. É assim que podemos
nos referir, por exemplo, à cultura de massa,
típico produto da indústria cultural ou da
sociedade techno contemporânea, bem como às
culturas juvenis, à cultura surda, à cultura
empresarial, ou às culturas indígenas,
expressando a diversificação e a singularização
que o conceito comporta.
6- Os EC não constituem um conjunto articulado de
ideias e pensamentos (descentrados) gt romper com
lógicas cristalizadas e concepções consagradas. - Os EC, para Stuart Hall (1996), se constituíram
como um projeto político de oposição, e suas
movimentações sempre foram acompanhadas de
transtorno, discussão, ansiedades instáveis... - (Costa, Silveira Sommer, 2003)
7- Os EC contribuíram para compreender que
- 1- os processos culturais estão intimamente
vinculados com as relações culturais (classe,
gênero, raça etc.) - 2- cultura envolve poder (assimetrias nas
capacidades dos indivíduos ou grupos sociais) - 3- cultura não é um campo autônomo nem
externamente determinado (o lócus da diferenças e
lutas sociais). - (Costa, Silveira Sommer, 2003)
8- De acordo com o conceito do antropólogo
Goodenough (In. Nogueira 200747) -
- Cultura consiste em tudo aquilo que
uma pessoa precisa saber ou acreditar de modo
a operar de uma maneira aceitável em relação aos
outros membros. (...) É a forma que as
coisas tomam na mente das pessoas, seus
modelos para apreender, relacionar e
interpretá-las (p.167).
9Identidades CulturaisSurdas (Nogueira 2007
42-48)
- As Identidades Culturais são compreendidas nas
práticas sociais. - Identidades são formadas por meio das diferenças
e não da homogeneidade (EU x O OUTRO). - Hall (2000109) identidades devem ser
reconhecidas em locais históricos e
institucionais específicos, no interior de
formações e práticas discursivas específicas, por
estratégicas específicas e iniciativas
específicas.
10A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS
- Antiguidade Clássica língua (oral) natureza
educável. - língua (oral) e intelecto estão tão
unidos em nossa representação de pessoas que,
desse modo, a surdez parece um defeito do
intelecto. Lane (1992)
11A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS
- gt No séc. XVIII, o abade LEpée inicia a educação
surda. Período dourado para os surdos. - Leitura e escrita, conteúdo escolar e
cultural. - gt No séc. XIX, Congresso Internacional de
Educadores de Surdos em Milão ? veta-se o uso da
língua de sinais na educação dos surdos. - Objetivo tratar da fala para tornar sujeito
completo, ou seja, curado filosofia educacional
oralista.
12- Crença A falta da audição e da fala afeta a
aquisição natural da língua e, por essa razão, a
competência cognitiva. - Lane (1992) Estigmas da deficiência (doente, o
surdo tem vida social pobre sujeito isolado
empobrecidos lingüisticamente não socializados
inválidos anormais etc.) ? auto-estima
comprometida.
13O ESTIGMA (Goffman, 1988)
-
- Estigma é um traço que afasta o sujeito
estigmatizado das relações sociais, apagando
todas as outros traços atributos que o levariam a
desempenhar papéis sociais.
14Goffman (in. Nogueira 2007)
- (...) encontram-se as mesmas características
sociológicas um indivíduo que poderia ter sido
facilmente recebido na relação social
quotidiana possui um traço que pode-se impor à
atenção e afastar aqueles que ele encontra,
destruindo a possibilidade de atenção para outros
atributos seus. Ele possui um estigma, uma
característica diferente da que havíamos
previsto.
15- Se a filosofia educacional oralista promovesse
de fato a integração do surdo na sociedade -
- Ele o surdo não seria obrigado a
perceber a sua identidade como uma
identidade deteriorada, nem se haver com a
dificuldade de entender porque aquilo que lhe
havia sido prometido não foi cumprido, isto é,
ele não ser aceito pela sociedade e ser
considerado normal. A construção fantasiosa
desta normalidade não o equipa com os
instrumentos necessários para poder entender
as dificuldades de aceitação (...) (Moura,
200087)
16- Segunda metade do século XX.
- Déc. de 60 status de língua para as
línguas de sinais. Inicia-se mudança na
literatura surda e auto-estima dos sujeitos
surdos. - Déc. 80 (1988) Rev. em Gallaudet gt
libertação dos estigmas pelos surdos gt povo
surdo (Cultura, língua e identidades surdas gt
orgulho de ser Surdo).
17CULTURA SURDA
18Wilcox Wilcox (1991?)
- Quem os Surdos pensam que são?
- Pela visão êmica da CS, quem se qualifica como
pessoa Surda e quem não o faz? - Quais são as categorias distintas de pessoas
que a cultura Surda impõe ao mundo? - Quem são os alguéns positivamente caracterizados
e apropriadamente identificados?
19- Dentro de um grupo social, podem
existir conflitos devido a posicionamentos
diferentes na cultura, construindo, desse modo,
identidades sociais (Blom Gumperz 2002). -
20SURDEZ ( Dois grupos culturais)
Pode ser vivida como
Surdo
Deficiente auditivo (D.A.)
Língua de sinais (modelo linguístico e cultural)
Língua oral (o português falado) gt modelo
linguístico e cultural rejeita a língua de
sinais.
21A Educação de Surdos
22Filosofias da Educação de Surdos
- 1) Oralismo (objetivo a língua da comunidade
ouvinte, com foco na fala) - 2 ) Comunicação Total (Objetivo aquisição da
língua da comunidade ouvinte. A língua de sinais
é um recurso metodológico para o aprendizado da
língua oral, i.e., sem status de língua e sua
função cognitiva e social). - 3) Bilinguismo (Objetivo aquisição da língua de
sinais como a primeira língua e a língua da
comunidade ouvinte (foco na modalidade escrita)
como a segunda língua da pessoa surda, com
metodologia específica de aprendizado de uma L2.
23No Brasil, a consequência do Oralismo
- FRACASSO EDUCACIONAL
- - comprometimento dos conteúdos básicos
(principalmente a modalidade escrita da língua). - - falta de uma língua que promova o
desenvolvimento cognitivo e emocional da maioria
dos surdos filhos de famílias ouvintes.
24O NOVO DESAFIO
- Década de 90
- BILINGUISMO
- (L1- LIBRAS e L2 Português)
- gt Proposta de educação valorizando aprendizado de
conteúdo e desenvolvimento do aluno.
25Decreto 5.626/05
- Que profissionais são essenciais para construir
uma educação bilíngue para os alunos surdos?
26Capítulo IV / Art. 14 - 1o
- III - prover as escolas com
- a) professor de Libras ou instrutor de
Libras - b) tradutor e intérprete de Libras -
Língua Portuguesa - c) professor para o ensino de Língua
Portuguesa como segunda língua para pessoas
surdas e - d) professor regente de classe com
conhecimento acerca da singularidade lingüística
manifestada pelos alunos surdos
27- IV - garantir o atendimento às necessidades
educacionais especiais de alunos surdos, desde a
educação infantil, nas salas de aula e, também,
em salas de recursos, em turno contrário ao da
escolarização - V - apoiar, na comunidade escolar, o uso e a
difusão de Libras entre professores, alunos,
funcionários, direção da escola e familiares,
inclusive por meio da oferta de cursos - VI - adotar mecanismos de avaliação coerentes com
aprendizado de segunda língua, na correção das
provas escritas, valorizando o aspecto semântico
e reconhecendo a singularidade lingüística
manifestada no aspecto formal da Língua
Portuguesa - VII- desenvolver e adotar mecanismos alternativos
para a avaliação de conhecimentos expressos em
Libras, desde que devidamente registrados em
vídeo ou em outros meios eletrônicos e
tecnológicos
28- Art. 15. Para complementar o currículo da base
nacional comum, o ensino de Libras e o ensino da
modalidade escrita da Língua Portuguesa, como
segunda língua para alunos surdos, devem ser
ministrados em uma perspectiva dialógica,
funcional e instrumental, como - I - atividades ou complementação curricular
específica na educação infantil e anos iniciais
do ensino fundamental e - II - áreas de conhecimento, como
disciplinas curriculares, nos anos finais do
ensino fundamental, no ensino médio e na educação
superior.
29- CAPÍTULO VI
- DA GARANTIA DO DIREITO À EDUCAÇÃO DAS PESSOAS
SURDAS OU COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
30- Art. 22. As instituições federais de ensino
responsáveis pela educação básica devem garantir
a inclusão de alunos surdos ou com deficiência
auditiva, por meio da organização de - II - escolas bilíngües ou escolas comuns da rede
regular de ensino, abertas a alunos surdos e
ouvintes, para os anos finais do ensino
fundamental, ensino médio ou educação
profissional, com docentes das diferentes áreas
do conhecimento, cientes da singularidade
lingüística dos alunos surdos, bem como com a
presença de tradutores e intérpretes de Libras -
Língua Portuguesa.
31- 1o São denominadas escolas ou classes de
educação bilíngue aquelas em que a Libras e a
modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam
línguas de instrução utilizadas no
desenvolvimento de todo o processo educativo.
32ESCOLA INCLUSIVA
33AS QUESTÕES
- A ESCOLA É INCLUSIVA PARA OS SURDOS?
- COMO CONSTRUIR UMA ESCOLA BILINGUE?
- A SALA DE RECURSOS?
- A CLASSE COMUM?
- O CURRÍCULO?
34O que a escola deve trabalhar com seu aluno surdo?
35Níveis de Adaptações Curriculares(PCN- Educ.
Especial)
- no âmbito do projeto pedagógico (currículo
escolar) - no currículo desenvolvido na sala de aula
- no nível individual.
36O LINGUÍSTICO
- Aquisição da linguagem (L1 e L2)
37Aquisição da Libras
- Quadros (1997) publica resultados de trabalhos
sobre aquisição da língua de sinais (ALS) por
crianças surdas filhas de surdos com o objetivo
de - 1- Conhecer o processo de ALS em crianças surdas
filhas de pais surdos - 2- Analisar sobre a ALS (L1) e suas repercussões
no ensino de crianças surdas.
38Aquisição da Libras
-
- Os estudos sobre a aquisição de língua de
sinais demonstraram que a criança surda passa
pelas mesmas fases de aquisição da linguagem, e
em períodos idênticos, que a criança surda.
39Aquisição da Libras
- Sabe-se que a língua é a responsável pelo
desenvolvimento cognitivo e social da pessoa, de
acordo com isso, Quadros (1997) chega à
conclusão - A não-exposição da criança surda à sua língua de
sinais, no período natural da aquisição da
linguagem (o período crítico), causa danos à
organização psicossocial da criança - considerando o período crítico, a criança surda
de pais ouvintes estão em situação de desvantagem
em relação às crianças de pais surdos,
comprometendo seu desenvolvimento da linguagem de
modo natural e, por consequência, seu
desenvolvimento educacional.
40Aprendizagem de Português (L2)
- - Reflexão na educação de surdos -
41Pressuposto básico para a aprendizagem de uma L2
42Ponto principal antes de preparar sua proposta de
ensino a língua portuguesa para surdos
43Ensino de uma L2
- (1) Qual o objetivo do ensino da língua
portuguesa para o aprendiz surdo? - (2) Como levar esse aprendiz a esse objetivo?
44O problema
- Normalmente, o material didático de ensino de
língua se destina à forma, prevalecendo
unicamente a seleção de itens da língua-alvo com
intenção de ensinar a estrutura do sistema em
questão. Com isso, é dispensado o desempenho
quanto ao uso (comunicação).
45O problema
- A maneira pela qual a língua estrangeira é
apresentada em sala de aula não corresponde à
experiência do aprendiz com sua própria língua
fora de sala de aula, ou nas salas de aula onde
ele usa a língua para o estudo das outras
matérias. (Widdowson, 1991) gt Conflito com a
realidade do aluno.
46Desse modo, devemos considerar a Língua
Portuguesa
- Primeiramente, pensar que esta é uma segunda
língua que, conforme o Decreto 5.626/05, tem por
objetivo a sua modalidade escrita. - Levar o aprendiz ao domínio de leitura e escrita
gt métodos de ensino de uma língua estrangeira /
segunda língua. - Proporcionar ao aprendiz a capacidade de
relacionar e construir saberes em relação aos
sistemas linguísticos da língua oral e da língua
de sinais. Para isso, devemos lembrar que língua
implica cultura, desse modo valorizar a cultura
do aluno e compreender a sua importância no
processo ensino-aprendizagem.
47Estratégias de ensino de L2
48A escolha de um texto deve explorar o conteúdo
real
- gt apelo ao interesse do aprendiz
- gtbuscar a linguagem não-verbal charges, quadros,
fotografias etc. - montar diagramas ou quadros informacionais
(linguagem não-verbal) - gt a relativa familiaridade do conteúdo já ter
sido previamente apresentado ou comentado pelo
professor na libras.
49A leitura de uma L2(Quadros, 199797)
- 1) Aspectos formadores do texto (títulos,
parágrafos, marcadores enunciativos, conectivos
etc.) - 2) Palavras-chaves
- 3) O conhecimento de mundo do leitor.
50A ESCRITA EM L2
- O aluno deve ser capaz de reconhecer os
diferentes propósitos comunicativos, com
diferentes tipos de textos ser capaz de narrar,
descrever, debater, persuadir, fazer inferências,
hipóteses etc.
51Conclusão sobre a educação de surdos
52Primeiramente
- Para construção de uma educação bilíngue, há
necessidade do reconhecimento do aluno surdo como
sujeito que faz parte de um grupo cultural
diverso do ouvinte. Isto significa reconhecer a
cultura surda e as identidades surdas no espaço
da escola.
53- A questão linguística é a problemática na
educação de surdos. - - O surdo aprende a escrita da Língua Portuguesa
como um estrangeiro. - - Há a necessidade de métodos específicos
(linguísticos e culturais) para letramento de
sujeitos surdos. Considerando o letramento em
libras e em língua portuguesa. - - Com relação ao português, experiência pouco
proveitosa com gêneros textuais, isto é, não é
suficiente para incluir o surdo no mundo da
leitura, havendo a necessidade de trabalhá-los,
mostrando suas funções e o modo em que a língua
está disposta para a construção do gênero em
questão.
54Referências bibliográficas
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