Title: Fisiologia do Ventr
1Fisiologia do Ventrículo Único
- Espectro de Abordagem desde o Nascimento até à
Cirurgia
Versão Original Dr. J. Burzynski Divisão de
Cuidados Intensivos Pediátricos Universidade do
Iowa - EUA
Versão Portuguesa Cristina Camilo, MD Elsa
Santos, MD Unidade de Cuidados Intensivos
Pediátricos (Hospital S. Maria Lisboa
Portugal)
2No final da apresentação deverão ser capazes de
- Identificar o grupo de patologias que apresenta
uma fisiologia de tipo ventrículo único - Identificar a apresentação clínica destes doentes
- Saber os pontos chave da estabilização e suporte
do doente no pré-operatório - Identificar a abordagem cirúrgica por estádios e
o seguimento do doente no pós-operatório
33 formas principais de apresentação de
cardiopatia congénita
- CHOQUE (Hipovolémia por obstrução do fluxo
sanguíneo sistémico) - CIANOSE (Obstrução/restrição do fluxo sanguíneo
para os pulmões) - INSUFICIÊNCIA CARDÍACA (sobrecarga de volume, p.
ex. defeito completo do septo AV) - para alem de sopros inocentes e outras
apresentações que não preocupam o intensivista - at least the ones intensivists worry about,
innocent murmurs aside
4Variantes Anatómicas do Ventrículo Único
- NÃO É APENAS o sindroma do coração esquerdo
hipoplásico (SCEH) - Geralmente existe uma mistura das circulações
pulmonar e sistémica - Pode existir uma obstrução do retorno venoso
5Exemplos de obstrução sistémica
- Síndrome do Coração Esquerdo Hipoplásico Clássico
(câmaras esquerdas pequenas com atrésia da aorta) - Estenose/coartação aórtica crítica
- Interrupção do arco aórtico
- Atrésia da válvula mitral
- Atrésia da válvula tricúspide - com malposição
das grandes artérias (TGA)
Entre outros!
6Malformações com obstáculo pulmonar
- Atrésia da tricúspide com grandes vasos
normalmente relacionados - Atrésia Pulmonar
- Anomalia de Ebstein
- Entre outros
7- A sintomatologia depende da gravidade da
obstrução - A maior parte do débito sanguíneo do ventrículo
vai para a Aorta - A existência de um shunt direito ? esquerdo a
nível auricular causa cianose
8A apresentação clínica e a decisão terapêutica
dependem de dois conceitos-chave
- A obstrução do tracto de saída é para o pulmão ou
para a circulação sistémica (ou ambos)? - A comunicação inter-auricular (CIA) é ampla ou
restritiva? -
- Na verdade estes conceitos são tudo o que é
preciso saber! - Really this is all you need to know!
9A importância do septo auricular
- Um ventrículo único necessita de uma boa mistura
dos retornos venoso e sistémico a nível auricular - Uma CIA restritiva (pequena) leva a um aumento da
pressão venosa central (com perda para o 3º
espaço, a nível sistémico) - A hipertensão venosa pulmonar (por aumento da
pressão da aurícula esquerda) causa hipóxemia
significativa - No entanto poderá ser benéfico existir algum
grau de restrição da CIA pois permite diminuir o
fluxo sanguíneo pulmonar
10Síndrome do Coração Esquerdo Hipoplásico (SCEH) 1
- foramen ovale patente (FOP) 2 aorta clampada
3 persistência do canal arterial 4 aorta
estreita 5 ventrículo esquerdo hipoplásico 6
atresia aórtica
Mistura completa a nível auricular, através do FOP
11Interrupção do arco aórtico 1 Interrupção do
arco aórtico 2 Aorta descendente em
comunicação com a Artéria Pulmonar pela
persistência de um grande canal arterial 3
Defeito do septo interventricular (CIV)
12Obstrução do tracto de saída sistémico
(continuação)
- A circulação SISTÉMICA depende do fluxo ductal
- O débito ventricular é sobretudo para o pulmão
- Existe um shunt Direito ? Esquerdo a nível ductal
- Na ausência de diagnóstico pré-natal, o
encerramento do canal arterial pode levar a um
quadro clínico de CHOQUE - Má perfusão periférica, pulso fraco, acidose
metabólica - Cianose por baixo débito cardíaco
- Frequentemente acompanhado de falência
multi-orgânica (rim, fígado, SNC)
13Normas para uma reanimação adequada
- IDENTIFICAÇÃO DA SITUAÇÃO!
- No período neonatal a patologia Ductus-dependente
é uma causa de choque tão frequente quanto a
sépsis - ABC frequentemente envolve intubação, sedação,
- Correcção da acidose metabólica se necessário
fazer expansão com bólus de soro fisiológico /-
inotrópicos
14Reanimação (continuação)
- Perfusão de Prostaglandina E1 (PGE1)!
- Qualquer RN em choque deve iniciar PGE1
- Manter o canal arterial patente
- Melhorar o fluxo sanguíneo nas lesões
ductus-dependentes, ou optimizar a mistura
circulatória na TGA - Dose ? 0,01-0,1 mcg/kg/min
- Efeitos secundários incluem apneia,
vasodilatação, febre - Se houver agravamento da hipóxia pensar em
obstrução venosa pulmonar
15Reanimação (continuação)
- Manter SatO2 entre 70-85 (não usar FiO2 100)
- Atenção à possibilidade de circulação pulmonar
excessiva à medida que a resistência vascular
pulmonar (RVP) diminui nos 1ºs dias -
- Tolerar PaCO2 mais elevadas para diminuir o fluxo
sanguíneo pulmonar (a circulação sistémica
depende do canal arterial)
Transferir para uma UCI apropriada!
16Abordagem Pré-operatória na UCI
- Confirmar o diagnostico!
- Ecocardiograma (raramente é necessário o
cateterismo) - Avaliar as dimensões da comunicação no SEPTO
INTERAURICULAR - Uma comunicação interauricular restritiva leva a
uma hipoxémia grave por aumento da pressão na
aurícula esquerda pior prognóstico - Avaliação de sinais sugestivos de possível
falência multi-orgânica (sobretudo se a
apresentação inaugural for o choque)
17Abordagem do Sistema Cardiovascular no período
Pré-operatório
- O objectivo é equilibrar o fluxo sanguíneo
pulmonar/sistémico - Equações de Fick
- QsVO2 / (CaO2-CmvO2)
- QpVO2 / (CpvO2-CpaO2)
- VO2 consumo de Oxigénio
- CaO2quantidade de oxigénio arterial Hb X 1.34
X SpO2 - CmvO2quantidade de oxigénio venoso sistémico
- CpvO2quantidade de oxigénio venoso pulmonar
- CpaO2quantidade de oxigénio na Artéria Pulmonar
18- Substituindo esta equação pela equação da
quantidade de oxigénio - Qp/Qs (SaO2 - SmvO2) / (SpvO2 - SaO2)
Saturação de oxigénio no sangue venoso sistémico
Saturação venosa pulmonar
Assumindo que a SatO2 95 (provavelmente
verdadeiro no pré-operatório mas NÃO no
pós-operatório)
19- O ponto chave desta situação é o facto de a SatO2
sistémica poder ser enganadora - Um maior fluxo sanguíneo pulmonar preserva a
SatO2 arterial mas co-existe com uma SatO2 venosa
sistémica baixa - No pré-operatório a medição da saturação venosa
sistémica é útil para as decisões terapêuticas - O lactato sérico é um bom marcador do metabolismo
anaeróbio - O objectivo é manter o Qp/Qs lt1,51
- O fluxo sanguíneo está muito dependente da
resistência sistémica e pulmonar
20Controlar o Qp
- Habitualmente uma circulação sistémica
ductus-dependente leva a um Qp elevado (o débito
ventricular vai predominantemente para o pulmão) - À medida que a relação Qp/Qs se aproxima de 2,
desenvolve-se sobrecarga de volume/ICC - Objectivo minimizar o fluxo pulmonar/maximizar
o fluxo sistémico e a entrega de oxigénio
21Intervenções terapêuticas
- Minimizar FiO2----21 adicionar N2 para obter
FiO2 16-18 - A hipóxia alveolar aumenta as RVP
- Atenção PaO2 sub-atmosférica prolongada pode
levar a aumento das RVP - Hipoventilação
- As RVP são sensíveis ao pH
- Pode ser necessário ventilação mecânica,
sedação/- curarização - Alguns centros também utilizam adição de CO2
inspirado (ao contrário do N2 - melhora DO2
22- Num doente ventilado o aumento do PEEP acima da
capacidade residual funcional (CRF) aumenta a RVP - Mantém a tensão nas arteríolas intra-alveolares
23Em relação à circulação sistémica
- Facilitar o débito sistémico diminuindo as
resistências vasculares sistémicas (RVS) - O objectivo é maximizar a entrega de O2 aos
tecidos (?DO2) - É necessária a utilização de fármacos
- Não existe uma terapêutica universal
- São normalmente usados fármacos que diminuem o
afterload - Milrinona, Nitroprussiato e Fenoxibenzamina
- A sedação/curarização diminui a utilização de
oxigénio (?VO2)
24Outros orgãos e sistemas
- Cuidado com a alimentação entérica (AE) risco
de isquémia/translocação bacteriana na circulação
ductos-dependente - Nas patologias cianóticas a circulação
esplâncnica tem tipicamente uma PaO2 baixa - Apesar de uma lesão renal inicial, a
insuficiência renal é normalmente reversível
25Abordagem cirúrgica
- Geralmente a correcção cirúrgica é efectuada na
1ª semana de vida (depende de cada centro) - A terapêutica médica por si só não é, por vezes,
suficiente para um controlo adequado da situação,
levando à intervenção cirúrgica - O objectivo é facilitar o retorno venoso
(sistémico e pulmonar) e melhorar o fluxo
sanguíneo sistémico - É necessário controlar a causa do aumento do Qp
26Opções
- Operação de Norwood Clássica
-
- Shunt de Blalock-Taussig ? conducto de 3,5 ou 4
mm ligando a Artéria Subclávia ou Inominada à
Artéria Pulmonar - Aumento do Arco aórtico (várias técnicas)
- Septectomia auricular
27OPERAÇÃO DE NORWOOD
28CORRECÇÃO DO ARCO AÓRTICO E CIRURGIA DAMOS-KAY
(DKS)
29Modificação de SANO
- Aumento do arco aórtico
- Colocação de um conduto do ventrículo direito
para a artéria pulmonar (normalmente com 5 mm,
dependendo do tamanho da criança) - Descrita inicialmente por Norwood mas abandonada
(uso de grande shunt) - Reintroduzida no Japão por Sano
30Shunt de Sano com arco aórtico aumentado
Inicio do aumento do arco aórtico
31Modificação de Sano (continuação)
- Artigos publicados menor necessidade de Cuidados
Intensivos na estabilização dos doentes - Parece haver menor risco de falência
circulatória/cardíaca súbita
32Procedimentos híbridos
- Descrições recentes de Banding da artéria
pulmonar, com colocação de stents no canal
arterial, durante o período neonatal - Usado em alguns centros como ponte para o
transplante - Outros centros fazem como primeira abordagem a
reconstrução do arco aórtico com anastomose
cavopulmonar, aos 3-6 meses de idade
33- No entanto os números são pequenos
- Casos isolados sugerem que a presença do stent no
canal arterial pode dificultar a reparação do
Arco Aórtico - Ainda não está definido se esta abordagem
constitui uma alternativa válida
34Estratégia no pós-operatório
- Princípios gerais
- Semelhante à abordagem no pré-operatório
circulação em série e adição dos efeitos da
circulação extracorporal (CEC) nas resistências
vasculares pulmonares/miocárdio - A ênfase tem sido no controlo do coeficiente
RVP/RVS através da utilização de
fármacos/estratégias respiratórias
35Estratégia no pós-operatório (continuação)
- Ênfase na utilização da SatO2 venosa central para
estimar a adequação da entrega do O2 aos tecidos - Os diferentes centros utilizam quer a
monitorização por oximetria invasiva contínua ou
doseamento intermitente de pH e gases - Não esquecer que o diferencial entre a SatO2
arterial e SatO2 venosa sistémica é mais
indicativo da entrega geral de O2 aos tecidos
36Resumo
- Tal como em todas as Cardiopatias Congénitas é
necessário saber para onde vai o fluxo sanguíneo - Contrariamente ao obvio, é melhor uma SatO2 mais
baixa - Se for necessário façam um desenho!
- (Draw it out if need be!)
37FIM!...