Title: FILOSOFIA DA
1FILOSOFIA DA
21. A Ciência na História
- As três principais concepções de ciência
- Historicamente, três têm sido as principais
concepções de ciência ou de ideais de
cientificidade - O racionalista, cujo modelo de objetividade é a
matemática - O empirista, que toma o modelo de objetividade da
medicina grega e da história natural do século
XVII - O construtivista, cujo modelo de objetividade
advém da idéia de razão como conhecimento
aproximativo
3A Ciência na História
- A concepção racionalista que se estende dos
gregos até o final do século XVII afirma que a
ciência é um conhecimento racional dedutivo e
demonstrativo como a matemática, portanto, capaz
de provar a verdade necessária e universal de
seus enunciados e resultados, sem deixar qualquer
dúvida possível - Uma ciência é a unidade sistemática de axiomas,
postulados e definições, que determinam a
natureza e as propriedades de seu objeto, e de
demonstrações, que provam as relações de
causalidade que regem o objeto investigado
4A Ciência na História
- O objeto científico é uma representação
intelectual universal, necessária e verdadeira
das coisas representadas e corresponde à própria
realidade, porque esta é racional e inteligível
em si mesma - As experiências científicas são realizadas apenas
para verificar e confirmar as demonstrações
teóricas e não para produzir o conhecimento do
objeto, pois este é conhecido exclusivamente pelo
pensamento - O objeto científico é matemático, porque a
realidade possui uma estrutura matemática, ou
como disse Galileu, o grande livro da Natureza
está escrito em caracteres matemáticos
5A Ciência na História
- A concepção empirista que vai da medicina grega
e Aristóteles até o final do século XIX afirma
que a ciência é uma interpretação dos fatos
baseada em observações e experimentos que
permitem estabelecer induções e que, ao serem
completadas, oferecem a definição do objeto, suas
propriedades e suas leis de funcionamento. - A teoria científica resulta das observações e dos
experimentos, de modo que a experiência não tem
simplesmente o papel de verificar e confirmar
conceitos, mas tem a função de produzi-los. - Eis por que, nesta concepção, sempre houve grande
cuidado para estabelecer métodos experimentais
rigorosos, pois deles dependia a formulação da
teoria e a definição da objetividade investigada.
6A Ciência na História
- Essas duas concepções de cientificidade possuíam
o mesmo pressuposto, embora o realizassem de
maneiras diferentes. Ambas consideravam que a
teoria científica era uma explicação e uma
representação verdadeira da própria realidade,
tal como esta é em si mesma. - A ciência era uma espécie de raio-X da realidade.
A concepção racionalista era hipotético-dedutiva,
isto é, definia o objeto e suas leis e disso
deduzia propriedades, efeitos posteriores,
previsões. - A concepção empirista era hipotético-indutiva,
isto é, apresentava suposições sobre o objeto,
realizava observações e experimentos e chegava à
definição dos fatos, às suas leis, suas
propriedades, seus efeitos posteriores e
previsões.
7A Ciência na História
- A concepção construtivista iniciada no século
passado considera a ciência uma construção de
modelos explicativos para a realidade e não uma
representação da própria realidade - O cientista combina dois procedimentos um,
vindo do racionalismo, e outro, vindo do
empirismo e a eles acrescenta um terceiro,
vindo da idéia de conhecimento aproximativo e
corrigível
8A Ciência na História
- Como o racionalista, o cientista construtivista
exige que o método lhe permita e lhe garanta
estabelecer axiomas, postulados, definições e
deduções sobre o objeto científico. - Como o empirista, o construtivista exige que a
experimentação guie e modifique axiomas,
postulados, definições e demonstrações. - No entanto, porque considera o objeto uma
construção lógico-intelectual e uma construção
experimental feita em laboratório, o cientista
não espera que seu trabalho apresente a realidade
em si mesma, mas ofereça estruturas e modelos de
funcionamento da realidade, explicando os
fenômenos observados.
9A Ciência na História
- Não espera, portanto, apresentar uma verdade
absoluta e sim uma verdade aproximada que pode
ser corrigida, modificada, abandonada por outra
mais adequada aos fenômenos. São três as
exigências de seu ideal de cientificidade - 1. Que haja coerência (isto é, que não haja
contradições) entre os princípios que orientam a
teoria - 2. Que os modelos dos objetos (ou estruturas dos
fenômenos) sejam construídos com base na
observação e na experimentação - 3. Que os resultados obtidos possam não só
alterar os modelos construídos, mas também
alterar os próprios princípios da teoria,
corrigindo-a.
102. Diferença entre ciência Antiga e Moderna
- Quando apresentamos os ideais de cientificidade,
dissemos que tanto o ideal racionalista quanto o
empirista se iniciaram com os gregos. - Porém, não significa que a concepção antiga e a
moderna (século XVII) de ciência sejam idênticas.
- Tomemos um exemplo que nos ajude a perceber
algumas das diferenças entre antigos e modernos. - A) Aristóteles escreveu uma Física.
11Diferença entre ciência Antiga e Moderna
- O objeto físico ou natural, diz Aristóteles,
possui duas características principais em
primeiro lugar, existe e opera independentemente
da presença, da vontade e da ação humanas em
segundo lugar, é um ser em movimento, isto é, em
devir, sofrendo alterações qualitativas,
quantitativas e locais nasce, vive e morre ou
desaparece. - A Física estuda, portanto, os seres naturais
submetidos à mudança.
12Diferença entre ciência Antiga e Moderna
- Os seres físicos não se movem da mesma maneira
(não se transformam nem se deslocam da mesma
maneira). Seus movimentos e mudanças dependem da
qualidade de suas matérias e da quantidade em que
cada um dos quatro elementos materiais existe
combinado com os outros num corpo. - Deixemos de lado todas as modalidades de
movimentos estudadas por Aristóteles e examinemos
apenas uma o movimento local. - Os corpos, diz o filósofo, procuram atualizar
suas potências materiais, atualizando-se em
formas diferentes. Cada modalidade de matéria
realiza sua forma perfeita de maneira diferente
das outras.
13Diferença entre ciência Antiga e Moderna
- No caso do movimento local, a matéria define
lugares naturais, isto é, locais onde ela se
atualiza ou se realiza melhor do que em outros. - Assim, os corpos pesados (nos quais predomina o
elemento terra) têm como lugar natural o centro
da Terra e por isso o movimento local natural dos
pesados é a queda. - Os corpos leves (nos quais predomina o elemento
fogo) têm como lugar natural o céu e por isso seu
movimento local natural é subir.
14Diferença entre ciência Antiga e Moderna
- Os corpos não inteiramente leves (nos quais
predomina o elemento ar) buscam seu lugar natural
no espaço rarefeito e por isso seu movimento
local natural é flutuar. - Enfim, os corpos não totalmente pesados (nos
quais predomina o elemento água) buscam seu lugar
natural no líquido e por isso seu movimento local
natural é boiar nas águas.
15Diferença entre ciência Antiga e Moderna
- Além dos movimentos naturais, os corpos podem ser
submetidos a movimentos violentos, isto é,
àqueles que contrariam sua natureza e os impedem
de alcançar seu lugar natural. - Por exemplo, quando o arqueiro lança uma flecha,
imprime nela um movimento violento, pois força-a
a permanecer no ar, embora seu lugar natural seja
a terra e seu movimento natural seja a queda.
16Diferença entre ciência a Antiga e Moderna
- Este pequeno resumo da Física aristotélica nos
mostra algumas características marcantes da
ciência antiga - É uma ciência baseada nas qualidades percebidas
nos corpos (leve, pesado, líquido, sólido, etc.) - É uma ciência baseada em distinções qualitativas
do espaço (alto, baixo, longe, perto, celeste,
sublunar) - É uma ciência baseada na metafísica da identidade
e da mudança (perfeição imóvel, imperfeição
móvel)
17Diferença entre ciência a Antiga e Moderna
- É uma ciência que estabelece leis diferentes para
os corpos segundo sua matéria e sua forma, ou
segundo sua substância - Como conseqüência das características anteriores,
é uma ciência que concebe a realidade natural
como um modelo hierárquico no qual os seres
possuem um lugar natural de acordo com sua
perfeição, hierarquizando-se em graus que vão dos
inferiores aos superiores
18Diferença entre ciência a Antiga e Moderna
- Os objetos físicos investigados pelo cientista
começam por ser purificados de todas as
qualidades sensoriais cor, tamanho, odor, peso,
matéria, forma, líquido, sólido, leve, grande,
pequeno, etc. -, isto é, de todas as qualidades
sensíveis, porque estas são meramente subjetivas.
- O objeto é definido por propriedades objetivas
gerais, válidas para todos os seres físicos
massa, volume, figura. - Torna-se irrelevante o tipo de matéria, de forma
ou de substância de um corpo, pois todos se
comportam fisicamente da mesma maneira. - Torna-se inútil a distinção entre um mundo
celeste e um mundo sublunar, pois astros e corpos
terrestres obedecem às mesmas leis universais da
física
19Diferença entre ciência a Antiga e Moderna
- Quando comparamos a física de Aristóteles com a
moderna, isto é, a que foi elaborada por Galileu
e Newton, podemos notar as grandes diferenças - Para a física moderna, o espaço é aquele definido
pela geometria, portanto, homogêneo, sem
distinções qualitativas entre alto, baixo,
frente, atrás, longe, perto. - É um espaço onde todos os pontos são reversíveis
ou equivalentes, de modo que não há lugares
naturais qualitativamente diferenciados
20Diferença entre ciência a Antiga e Moderna
- A física estuda o movimento não como alteração
qualitativa e quantitativa dos corpos, mas como
deslocamento espacial que altera a massa, o
volume e a velocidade dos corpos. - O movimento e o repouso são as propriedades
físicas objetivas de todos os corpos da Natureza
e todos eles obedecem às mesmas leis aquelas
que Galileu formulou com base no princípio da
inércia (um corpo se mantém em movimento
indefinidamente, a menos que encontre um outro
que lhe faça obstáculo ou que o desvie de seu
trajeto) e aquelas formuladas por Newton, com
base no princípio universal da gravitação (a toda
ação corresponde uma reação que lhe é igual e
contrária).
21Diferença entre ciência a Antiga e Moderna
- A Natureza é um complexo de corpos formados por
proporções diferentes de movimento e de repouso,
articulados por relações de causa e efeito, sem
finalidade, pois a idéia de finalidade só existe
para os seres humanos dotados de razão e vontade. - Os corpos não se movem, portanto, em busca de
perfeição, mas porque a causa eficiente do
movimento os faz moverem-se - A física é uma mecânica universal
22Diferença entre ciência a Antiga e Moderna
- A física da Natureza se torna geométrica,
experimental, quantitativa, causal ou mecânica
(relações entre a causa eficiente e seus efeitos)
e suas leis têm valor universal,
independentemente das qualidades sensíveis das
coisas. Terra, mar e ar obedecem às mesmas leis
naturais - A Natureza é a mesma em toda parte e para todos
os seres, não existindo hierarquias ou graus de
imperfeição-perfeição, inferioridade-superioridade
23Diferença entre ciência a Antiga e Moderna
- Há, ainda, uma outra diferença profunda entre a
ciência antiga e a moderna. - A primeira era uma ciência teorética, isto é,
apenas contemplava os seres naturais, sem jamais
imaginar intervir neles ou sobre eles. - A técnica era um saber empírico, ligado a
práticas necessárias à vida e nada tinha a
oferecer à ciência nem a receber dela. - Numa sociedade escravista, que deixava tarefas,
trabalhos e serviços aos escravos, a técnica era
vista como uma forma menor de conhecimento.
24Diferença entre ciência a Antiga e Moderna
- Duas afirmações mostram a diferença dos modernos
em relação aos antigos a afirmação do filósofo
inglês Francis Bacon, para quem saber é poder,
e a afirmação de Descartes, para quem a ciência
deve tornar-nos senhores da Natureza - A ciência moderna nasce vinculada à idéia de
intervir na Natureza, de conhecê-la para
apropriar-se dela, para controlá-la e dominá-la
25Diferença entre ciência a Antiga e Moderna
- A ciência não é apenas contemplação da verdade,
mas é sobretudo o exercício do poderio humano
sobre a natureza - Numa sociedade em que o capitalismo está surgindo
e, para acumular o capital, deve ampliar a
capacidade do trabalho humano para modificar e
explorar a Natureza, a nova ciência será
inseparável da técnica
26Diferença entre ciência a Antiga e Moderna
- Na verdade, é mais correto falar em tecnologia do
que em técnica - De fato, a técnica é um conhecimento empírico,
que, graças à observação, elabora um conjunto de
receitas e práticas para agir sobre as coisas - A tecnologia, porém, é um saber teórico que se
aplica praticamente
27Diferença entre ciência a Antiga e Moderna
- Por exemplo, um relógio de sol é um objeto
técnico que serve para marcar horas seguindo o
movimento solar no céu. - Um cronômetro, porém, é um objeto tecnológico
por um lado, sua construção pressupõe
conhecimentos teóricos sobre as leis do movimento
(as leis do pêndulo) e, por outro lado, seu uso
altera a percepção empírica e comum dos objetos,
pois serve para medir aquilo que nossa percepção
não consegue perceber.
28Diferença entre ciência a Antiga e Moderna
- Uma lente de aumento é um objeto técnico, mas o
telescópio e o microscópio são objetos
tecnológicos, pois sua construção pressupõe o
conhecimento das leis científicas definidas pela
óptica. - Em outras palavras, um objeto é tecnológico
quando sua construção pressupõe um saber
científico e quando seu uso interfere nos
resultados das pesquisas científicas. - A ciência moderna tornou-se inseparável da
tecnologia.