Title: O pior analfabeto
1O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele
não ouve, não fala, nem participa dos
acontecimentos políticos. Ele não sabe que o
custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da
farinha, do aluguel, do sapato e do remédio
dependem de decisões políticas. O analfabeto
político é tão burro que se orgulha e estufa o
peito dizendo que odeia a política. Não sabe o
imbecil que, da sua ignorância política, nasce a
prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o
pior de todos os bandidos, que é o político
vigarista, pilantra, o corrupto e o lacaio das
empresas nacionais e multinacionais."
(Bertolt Brecht)
2(Bertolt Brecht)
3A alienação do homem, para Brecht, não se
manifesta como produto da intuição artística.
Brecht ocupa-se dela de maneira consciente e
proposital. Mas não basta compreendê-la e
focalizá-la. O essencial não é a alienação em si,
mas o esforço histórico para a desalienação do
homem.
4 Dramaturgo e poeta alemão. Revolucionou o
teatro com peças que visavam estimular o senso
crítico e a consciência política do espectador.
Brecht foi um dos nomes mais influentes do teatro
do século XX, Sua influência, no entanto, não se
restringe ao teatro, pois Brecht foi igualmente
importante pelas novidades técnicas de sua poesia.
5Política - Conceito criado pelos Gregos e
Romanos. - Antes dos Gregos e Romanos existia
uma prática do poder em que se misturava com o
ocupante do poder - A característica do poder
era a identificação entre o ocupante do poder e o
próprio poder - O governante era a encarnação
do próprio poder - A vontade do governante
(pessoal, privada, arbitrária) era a lei.
6- O governante era o autor da lei, da recompensa,
da justiça, ou seja, a vontade do governante era
o critério para a paz ou a guerra, para a vida ou
a morte, para a justiça ou a injustiça...
7- Os Gregos e Romanos criaram a idéia de um
espaço onde o poder passa a existir através das
leis as leis não se identificam com a vontade
dos governantes, elas exprimem uma vontade
coletiva, através da discussão, deliberação e do
voto da Assembléia.
8 - Os Gregos e Romanos submeteram o poder a um
conjunto de instituições (praticas) que fizeram
dele algo público que diz respeito a totalidade
do cidadão, que era discutida, deliberada e
votada por ele - Os Gregos e Romanos criaram a
esfera pública, ou seja, ninguém se identifica
com o poder, a vontade de ninguém é lei e,
portanto, a autoridade é coletiva, pública e
aquilo que constitui o cidadão.
9 - Gregos e Romanos distinguem com Clareza a
autoridade pública com a autoridade privada. -
No espaço privado, quem detém o poder (a
autoridade) é o chefe da família, que se chama
despótes, que tem autoridade de vida e morte
sobre os membros da família, no espaço privado da
família, por isso é despótica
10 - Para os Gregos e Romanos, quando uma
autoridade é despótica, o espaço público foi
tomado pelo espaço privado e a política acabou.
- A condição da política é que não haja
despotismo.
11- O conceito de política expandiu-se graças à
influência da obra de Aristóteles (384-322 a.C.),
intitulada A Política, considerada como o 1º
tratado sobre a natureza, funções e divisão do
Estado e sobre as várias formas de governo
(Monarquia, Aristocracia e Democracia) - - Aristóteles concebia a política como toda
prática social que envolve a vida na polis
(cidade-estado grega). Ou seja, refere-se ao
público, ao civil, ao sociável. -
12 - Para Aristóteles o homem é um animal
político e que, portanto, a política não está
restrita às questões de Estado. È muito mais
abrangente que o mesmo. - Política é
compreendida como uma prática social múltipla e
cotidiana, que se insere na realidade de todo e
qualquer homem socializado.
13 - Para a compreensão e fundamentação da prática
política é imprescindível a apresentação de
alguns autores clássicos, que muito contribuem
para o entendimento da nossa contemporaneidade.
14Thomas Hobbes (1588-1679)
- - Foi um matemático, teórico político e filósofo
Inglês -
- - Suas principais idéias estão contidas em sua
obra Leviatã (1651)
15Leviatã
- - Leviatã é um monstro bíblico cruel e invencível
que simboliza, para Hobbes, o poder do Estado
Absolutista. - - No desenho, seu corpo é constituído de
inúmeras cabeças e ele empunha os símbolos dos
dois poderes, o civil e o religioso. -
16 - Hobbes alega serem os humanos egoístas por
natureza. Com essa natureza tenderiam a guerrear
entre si, todos contra todos (Bellum omnia
omnes)- O homem é lobo do próprio homem- Assim,
para não exterminarmo-nos uns aos outros será
necessário um contrato social que estabeleça a
paz, a qual levará os homens a abdicarem da
guerra contra outros homens. Mas, egoístas que
são, necessitam de um soberano (Leviatã) que puna
aqueles que não obedecem ao contrato social.
17- Na perspectiva de Hobbes, a melhor forma de
governo era a monarquia sem a presença
concomitante de um Parlamento, pois este
dividiria o poder e, portanto, seria um estorvo
ao Leviatã e levaria a sociedade ao caos. - - "Dos poderes humanos o maior é aquele
composto pelos poderes de vários homens, unidos
por consentimento numa só pessoa, natural ou
civil, que tem o uso de todos os seus poderes na
dependência de sua vontade. É o caso do poder de
um Estado." -
18- Dentro desta linha de raciocínio, afirmava
Hobbes que o poder do Estado é irrevogável, ou
seja, não pode ser anulado.
19 - Para anulá-lo seria necessário a participação
de todos novamente, porém quando o contrato foi
assinado todos estavam em condições de igualdade
e com o surgimento do Estado estabeleceu-se a
desigualdade, pois alguns homens já se
beneficiavam do Estado e jamais iriam abrir mão
de seus benefícios sem haver guerra.
20 - Hobbes ainda sustentava a idéia de que quando
os homens fizeram o pacto renunciaram aos seus
direitos e liberdades. Se alguém abre mão de
algum direito, não detém mais direito algum sobre
o que renunciou.
21 - Um único direito que permaneceu para as
pessoas foi o direito a vida, que é inclusive a
razão da existência do Estado. E para isso no
capítulo 21 do Leviatã Hobbes abre uma pequena
brecha para que o súdito rompa o contrato "A
obrigação dos súditos para com o soberano dura
enquanto e apenas enquanto dura também o poder
mediante o qual ele é capaz de protegê-los. O
direito que por natureza os homens têm de
defender-se a si mesmos não pode ser abandonado
através de pacto algum".
22 - Para Hobbes, os primeiros líderes das
sociedades primitivas criaram crenças e religiões
para manter o povo em obediência e paz. Por isso,
defendia a idéia de que o poder da Igreja deveria
estar submetido ao Estado. Daí vem as acusações
de ateísmo contra Hobbes.
A Destruição de Leviatã - gravura de Gustave Doré
(1865)
23Nicolau Bernardo Maquiavel (1469-1527)
- Filósofo e político do Renascimento italiano.
-
24- Em 1498 se tornou funcionário público do
governo de Florença e posteriormente diplomata,
viajando para todas as importantes
Cidades-estados da península itálica e também
para diversas cortes estrangeiras.
25- - Em toda a parte, Maquiavel observava os
políticos e suas maneiras tornou-se um analista
do poder. Acima de tudo, amava a Itália e queria
vê-la unida sob um monarca. Ao mesmo tempo em que
era defensor de táticas severas e cínicas, era um
patriota idealista.
26 - Típico pensador do Renascimento, Maquiavel é
considerado o primeiro teórico do Estado moderno.
Ele vislumbrava a necessidade de um Estado
centralizador e poderoso, em que o governante se
sobressaísse sobre os demais senhores feudais e
tivesse poder para conduzir a sociedade.
27- Em sua principal obra, O Príncipe (1513), uma
espécie de manual do absolutismo (dedicado ao
duque de Urbino, Lourenço de Médici) o tema
central é o debate sobre a seguinte questão é
preferível que um líder seja amado ou temido?
Maquiavel responde que é importante ser amado e
temido, porém, é melhor ser temido que amado.
28- Para Maquiavel, o amor é um sentimento volúvel
e inconstante, já que as pessoas são naturalmente
egoístas e podem freqüentemente mudar sua
lealdade. Porém, o medo de ser punido é um
sentimento que não pode ser modificado ou
ignorado tão facilmente.
29- Para Maquiavel, não havia meios que os fins não
justificassem nem códigos morais que não pudessem
ser transgredidos, nem princípios religiosos que
reprimissem o governante.
30- Ao escrever sobre o poder político, situando-o
a partir das qualidades pessoais dos governantes,
Maquiavel rompe com uma cultura política
legitimada pelo poder espiritual da igreja.
31- Esta ruptura ousada não é feita sem custos,
mesmo o próprio Maquiavel declarando que suas
idéias não são originais. - Seus conselhos já
haviam sido adotados na prática por diversos
governantes bem-sucedidos. Maquiavel apenas
apresentou, e não criou a realidade amoral da
política.
32 - A leitura de sua obra é marcada pelo
preconceito, onde se valendo de algumas citações
descontextualizadas, caracterizou-se Maquiavel
como um autor defensor da violência contra o povo
e sem nenhuma moral política. - Nas reflexões de
Antônio Gramsci, os ensinamentos de Maquiavel
dizem muito mais do que o senso comum tem dito a
seu respeito.
33 - Para Gramsci, Maquiavel escreveu O Príncipe,
não para os poderosos, pois estes já sabiam como
governar e como agir para manter-se no poder, mas
justamente, para aqueles que não conhecem as
engrenagens do poder o povo. - De acordo com
Gramsci, Maquiavel propôs-se a revelar como
funcionam os bastidores do poder.
34- Ao analisarmos Maquiavel sob a ótica Gramsciana
é preciso observar Para Maquiavel o governante
pode ser temido, deve ser amado e jamais odiado
35 O príncipe não deve ter grande medo de
conspirações se o povo for seu amigo, mas se o
povo não for seu amigo e, pelo contrário, o
odiar, deve temer todos e todas as ocasiões
36 Repetirei apenas ser necessário que um
príncipe se faça amar pelo seu povo, porque do
contrário não terá nenhum remédio nas suas
adversidades Convém que se cumpra sempre o
que resolver e seja íntegro nas suas resoluções
37- O que acontece na realidade é que os políticos
em geral só olham na obra de Maquiavel o que
interessa a eles. - É preciso mudar a visão
sobre Maquiavel, de que seus ensinamentos são
totalmente desfavoráveis ao homem comum. - É
importante lê-lo. Estudá-lo. Esquadrinhá-lo, como
dizia o psicólogo Michel Foucault.
38John Locke (1632-1704)
- - Filósofo inglês, iniciador do iluminismo.
- - Foi a partir de suas idéias que se constituiu
as bases do Estado-Nação na Inglaterra.
39- Foi um defensor apaixonado das idéias liberais,
considerado o pai do liberalismo, representante
da burguesia emergente, que preiteava a conquista
do poder do Estado.
40- Se para Hobbes os homens são naturalmente maus,
para Locke, em uma visão completamente diferente
defende que o homem nasce como umas folhas de
papel em branco, aonde vão ser inscritos os
traços de sua personalidade a partir das
experiências concretas que este vivencia em
sociedade, não sendo, portanto, bom ou mau por
natureza, mas sim inteligente
41- Para Locke o que caracteriza o homem é sua
capacidade racional, e partindo desta concepção
vai defender suas idéias liberais. - A
inteligência leva o homem a transformar a
natureza através do trabalho, e este se
materializa em propriedade. Quer dizer quanto
mais o homem usa seu potencial de inteligência
através do trabalho, mais proprietário ele é.
42- Porém, segundo Locke, nem todos os homens
utilizam sua inteligência, para através do
trabalho, adquirir propriedades. Alguns tentam
apropriar-se da propriedade alheia, colocando-a
sob ameaça. - Daí a necessidade de se criar o
Estado, cuja finalidade central vai ser garantir
a propriedade.
43 - Além de garantir a propriedade privada, o
Estado tinha a função também de garantir as
liberdades fundamentais dos homens,
principalmente, em relação à livre iniciativa dos
empreendedores.
44 - Diferentemente do Estado hobbesiano, onde os
homens eram transformados em súditos, que
deveriam servi-lo, o Estado que advém do pacto
social defendido por Locke é um Estado a serviço
dos cidadãos, daí a máxima dos liberais Menos
Estado e mais mercado.
45- O Estado defendido por Locke é
- Divisível porque o poder do Estado deve estar
em mãos diferentes (executivo, legislativo e
judiciário), pois do contrário seria um poder
tirânico, despótico. - Revogável - porque o Estado deve estar a
serviço dos cidadãos. Se quem estiver dirigindo o
Estado abusar do poder é legítimo aos cidadãos
tira-lo do mesmo. - Democrático porque o Estado deve representar
o interesse dos cidadãos.
46 - Segundo Locke, o Estado é um mal necessário,
que deve restringir-se ao necessário, sem
intervir nas relações que já funcionavam bem
antes do próprio Estado, qual seja a tríade
Razão Trabalho Propriedade. - Compreender
esta tríade que fundamenta o pensamento de Locke,
é imprescindível para a solidez ideológica do
pensamento liberal que conforma nossa sociedade
47 A propriedade é um direito natural, que já
existia antes do Estado. O trabalho é o único
meio legítimo de adquirir propriedade, que sendo
resultado da fadiga física e/ou intelectual, é
considerada uma extensão do corpo do
proprietário. A partir desta compreensão Locke
vai defender a idéia que aquele que ameaça a
propriedade está ameaçando a vida do proprietário
e, neste sentido a reação do agredido
caracteriza-se por legítima defesa, sendo
legítimo matar o agressor, mesmo que este tente
apropriar-se de um casaco ou um cavalo.
48 O indivíduo é responsável exclusivo pelo seu
êxito ou fracasso social, pois se todos são
dotados de inteligência e, portanto, de
capacidade de trabalho, que é o meio de adquirir
legitimamente propriedade, aqueles que têm mais
propriedade é porque usaram mais e melhor do seu
potencial de inteligência. Os que não têm
propriedades é porque não utilizaram sua
inteligência e, portanto, trabalharam menos.
49Jean-Jaques Rousseau (1712-1778)
- - Foi um filósofo Suíço, escritor, teórico
político e um compositor musical autodidata. - - Foi uma das figuras marcantes do Iluminismo
Francês.
50- Rousseau foi um pensador profundamente
preocupado com a desigualdade social, suas idéias
são anti-capitalista e considerado um antecessor
do Socialismo e comunismo. - Foi um dos
primeiros autores modernos a atacar a propriedade
privada.
51- A sua principal abra O Contrato Social
reflete sobre os meios através dos quais os
homens poderiam caminhar para uma sociedade
igualitária e livre. - Rousseau concebia os
homens como naturalmente bons e generosos, e
corrompida pelo acúmulo de propriedade nas mãos
de poucos.
52 - Afirmava Rousseau que o problema crucial dos
homens começou, quando, ainda no estado de
natureza, o primeiro homem fez uma cerquinha e
afirmou que aquela área era sua, e encontrou ao
seu redor, homens suficientemente ingênuos para
aceitar tal afirmação.
53 - Propõe a ruptura com a sociedade fundada
sobre o acúmulo de propriedades nas mãos de
poucos, através de um Contrato Social, onde todos
os homens fariam a alienação total, ou seja, os
homens associados voluntariamente doariam suas
propriedades para serem redistribuídas,
permitindo a todos a propriedade necessária e
suficiente para uma vida digna.
54 - Para Rousseau, os homens proprietários fariam
a doação voluntariamente porque acreditava que a
natureza do homem é boa e generosa, e ser bom e
generoso é sempre selo em relação ao outro.
Ninguém é bom e generoso para si, pois então ele
não é bom, ele é egoísta. Portanto, ser bom e
generoso é um ato que exige o outro e que se
realiza na relação com o outro.
55- Rousseau não pretendeu fazer revolução com as
teses do Contrato Social, mas postular as
condições constitucionais ideais da sociedade
justa. - Segundo Rousseau, com o Contrato
Social os homens resgatariam a plenitude da sua
essência boa e generosa.
56- Somente a partir deste contrato, é que pode
surgir um novo Estado governado pela Vontade
Geral, que para Rousseau, não é a soma das
vontades individuais, ela reflete interesse comum
que é muito mais amplo e superior à mera soma das
vontades particulares.
57- Rousseau questionou a suposição de que a
maioria está sempre correta e argumentou que o
objetivo do Estado deveria ser assegurar a
liberdade, igualdade e justiça para todos,
independentemente da vontade da maioria.
58- A Vontade Geral é então Absoluta, porque não
tem limites, pois ninguém tem mais poder do que a
vontade que resulta do interesse comum de todos
os homens. Suas decisões são soberanas.
59 - Para Rousseau, o Estado, que resulta do
Contrato Social, é um Estado regido por uma
democracia radical, direta, na qual os homens
podem delegar o poder de representar a decisão da
Vontade Geral, porém, jamais, a própria vontade.
60A história é um labirinto. Acreditamos saber que
existe uma saída, mas não sabemos onde está. Não
havendo ninguém do lado de fora que nos possa
indicá-la, devemos procurá-la.
(Norberto Bobbio,
1909-2004))
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